terça-feira, 24 de julho de 2012

Martyn Lloyd Jones 22 ARTIGOS EDIFICANTES

 1 -Acerte o passo com Deus – Martyn Lloyd-Jones



Antes que se possam resolver os problemas da vida e dos homens, precisamos, primeiramente, discernir a verdadeira natureza do problema. Devemos estar preparados para pensai com honestidade, fazendo exame e análise completos, o que; nos sondará no mais profundo, perscrutando tanto os nossos motivos como as nossas ações.



Onde se pode encontrar tal tipo de exame e de análise? . . .somente na Bíblia. . . Segundo o Livro, os problemas do homem resultam do fato que ele pecou e se rebelou contra Deus. Foi criado num estado de felicidade que dependia de seu relacionamento com Deus e de sua obediência às leis de Deus e à vontade de Deus.



No entanto, o homem rebelou-se contra a vontade de Deus, e, portanto, transgrediu contra a lei de sua própria natureza. . . a felicidade depende da saúde. Em nenhum lugar se vê melhor essa sucessão de fatos do que no campo espiritual e moral. O homem tornou-se doentio. Uma doença chamada pecado arruinou-lhe o ser. O homem recusa-se a reconhecer sua corrupção e recorre a vários expedientes. . . na tentativa de achar felicidade e paz. Invariavelmente falha, porém, porquanto a dificuldade não reside apenas no seu interior e em seu meio ambiente, mas também em seus relacionamentos com Deus.



O homem luta contra o único Ser que pode dar-lhe o que ele precisa e deseja. Deus já declarou: «Para os perversos, diz o meu Deus, não há paz» (Isaías 57.21). Portanto, ao lutar contra Deus, em sua resistência e desobediência a Ele, o homem rouba de si mesmo o próprio prêmio que anela receber. E, sem importar o que venha a fazer, nunca conhecerá a saúde e a felicidade enquanto não for restabelecida a sua relação de obediência a Deus.



Poderá multiplicar suas posses e riquezas, poderá aperfeiçoar suas facilidades educacionais, poderá ganhar todo um mundo de riquezas e conhecimento; entretanto, nada disso lhe será de proveito, enquanto não for corrigido o seu relacionamento com Deus.

 2 -Este é o caminho que o Senhor seguiu – M. Lloyd-Jones (1899-1981).



«Ah», dizemos, «a mesma coisa sempre, semana após semana». Essa é a nossa atitude para com nossa vida, e. . . nos exaurimos. . . Se você considera a vida cristã como uma tarefa monótona, está insultando a Deus. ..





Se eu e você chegamos a considerar qualquer aspecto da vida cristãmeramente como uma tarefa e um dever, e se temos que aguilhoar-nos a nós mesmos e rilhar os dentes, a fim de prosseguirmos com ela, digo que estamos insultando a Deus e que esquecemos a própria essência do cristianismo.



A vida cristã não é uma tarefa. Só a vida cristã merece o nome de vida. Só ela é reta e santa e pura e boa. É a espécie de vida que o próprio Filho de Deus viveu. É para ser como Deus .em Sua santidade. Aí está por que devo vivê-la. Não é bem que eu tenha que resolver fazer um grande esforço para levá-la adiante de qualquer jeito. . . Como é que entrei nesta vida — esta vida da qual ando resmungando e me queixando, achando-a pesada e difícil? . . . há somente uma resposta. . . é porque o unigênito Filho de Deus deixou o Céu e veio à terra para a nossa salvação; despojou-se de todas as insígnias da Sua glória eterna e se humilhou nascendo como um nenê e sendo colocado numa simples manjedoura. Suportou por trinta e três anos a vida deste mundo. Foi cuspido e ultrajado. Espinhos Lhe furaram a cabeça, e Ele foi cravado numa cruz, para levar sobre Si o castigo do meu pecado. Assim foi que cheguei à vida cristã.




. . . «Não vos canseis de fazer o bem». Meu amigo, se você pensa na vida cristã. . . com este sentimento de repulsa, ou vendo-a como cansativa tarefa ou obrigação, digo-lhe que volte ao princípio da sua vida, retroceda os passos até àquela porta estreita pela qual você entrou. Olhe para o mundo e para o seu mal e seu pecado, veja o inferno para o qual ele o estava levando, e depois olhe para a frente e dê-se conta de que você está no meio da mais gloriosa campanha na qual alguém já pôde entrar, e que você está percorrendo a mais nobre estrada que o mundo já conheceu.

3 -Brilhe vossa Luz!! – M. Lloyd-Jones


Assim brilhe também a vossa luz diante dos homens, para que vejam as vossas boas obras e glorifiquem a vosso Pai que está nos céus.

A vida cristã é sempre uma questão de balança e equilíbrio. É vida que dá a impressão de ser autocontraditória. . . Lendo o Sermão do Monte, nos deparamos com algo desta sorte: «Assim brilhe também a vossa luz diante dos homens, para que vejam as vossas boas obras e glorifiquem a vosso Pai que está nos céus». Lemos depois: «Guardai-vos de exercer a vossa justiça diante dos homens, com o fim de serdes vistos por eles; doutra sorte não tereis galardão junto de vosso Pai celeste». Ao ver isto, alguém pode dizer: «Bem, que hei de fazer? Se devo fazer todas essas coisas em segredo. . . como saberão os outros que as faço, e como será possível que verão a luz que brilha em mim?»

Mas, naturalmente, isso não passa de contradição superficial. . . somos chamados para praticar ambas as coisas simultaneamente. O cristão deve viver de tal modo que os homens, olhando para ele e vendo a qualidade da sua vida, glorificarão a Deus. Ao mesmo tempo, ele precisa lembrar que não deve fazer as coisas a fim de atrair a atenção para si próprio. Não deve alimentar o desejo de ser visto pelos homens; nunca deve preocupar-se consigo mesmo. Mas, é claro, esse equilíbrio é fino e delicado; com demasiada freqüência tendemos a ir para um extremo ou outro. . . Mas aqui somos chamados a evitar ambos os extremos. É vida delicada, é vida sensível, mas se nossa abordagem for feita de maneira correta, e sob a orientação do Espírito Santo, o equilíbrio poderá ser man¬tido. . Nunca olvidemos isto: o cristão deve, ao mesmo tempo, estar atraindo atenção sobre si e, contudo, não atrair atenção para si.
A Autoridade de Jesus Cristo. – M. Lloyd-Jones

Os evangelhos foram escritos com um definido e deliberado objetivo em vista. Não foram escritos apenas como registros ou meras coletâneas de fatos. Não. . . Todos eles apre¬sentam o Senhor Jesus Cristo como o Senhor, como Autoridade final.

A mensagem de João Batista era essencialmente idêntica. Ei-lo sozinho, depois de pregar e de batizar o povo no Jordão. . . o povo diz: «Certamente este há de ser o Cristo. Nunca antes ouvimos pregação como esta. Por certo este deve ser o Messias que aguardamos. João se volta para eles... e diz : «Eu não sou o Cristo» ...(Lucas 3.16-18). «Eu sou o precusor, o arauto. Ele é a Autoridade. Ele ainda está por vir.» Como os Evangelhos são cuidadosos quanto a levar avante essa reivindicação!

Há algo mais. . . É o relato que os Evangelhos dão do que aconteceu por ocasião do batismo de nosso Senhor. Ali Ele se submete ao batismo ministrado por João. . . Mas. ... o Espírito Santo desce sobre Ele, como pomba. Mais impor¬tante ainda é aquela Voz. . . «Este é o meu Filho amado, em quem me comprazo» (Mateus 3.17). ..No Monte da Transfiguração é empregada uma linguagem parecida, mas há um acréscimo da maior significação e importância. . . «. . .a ele ouvi» (Mateus 17.5). . . «Este é Aquele a quem deveis ouvir.

Estais aguardando uma palavra. Estais esperando resposta às vossas perguntas. Estais procurando solução para os vossos problemas. Haveis consultado os filósofos; tendes estado a ouvir; tendes levantado a pergunta: «Onde podemos encon¬trar a autoridade final? Eis a resposta oriunda do Céu, de Deus: «A Ele ouvi». Outra vez, como se vê, Ele é indicado, Ele é posto diante de nós como a última palavra, a Autoridade final, Aquele a quem  nos  devemos  submeter,  a quem devemos ouvir.

Authority, p. 16.17

4 - Deus não pode ser excluído! – Martyn Lloyd-Jones



Como é que você pode fazer planos para a vida e para o mundo e, ao mesmo tempo, excluir Deus, que é o Criador, o Preservador e o Governador de todas as coisas? Deus não somente fez o mundo; Ele está ativamente interessado nele, e constantemente intervém em suas atividades. Suas leis são absolutas e não podem ser evitadas. . .



Deus decidiu, ordenou e fez os ajustamentos necessários para que uma vida de esquecimento dEle e de antagonismo a Ele não tenha sucesso e não seja feliz. . . Essa é toda a história da humanidade desde o princípio, continua hoje, e continuará sendo assim até o fim dos tempos. A humanidade tem-se recusado a reconhecer isso — de fato, o tem ridicularizado. Tem estado confiante em que pode obter bom êxito sem Deus. Quais os resultados, porém? Fracassos constantes. Deus não pode ser impedido em Sua obra.



Os fatos da vida e as narrativas da história proclamam a ira de Deus contra toda impiedade e injustiça. Esse é o nosso primeiro problema. Pecamos contra Deus. É errôneo o nosso relacionamento com Ele. Sua ira paira sobre nós. Nós Lhe fizemos impossível abençoar-nos. . . Ninguém pode guardar a lei. . . Não há esperança, então? Não se pode fazer nada? Graças a Deus, o Evangelho de Cristo dá a resposta. . .



Deus liquidou o assunto dos nossos pecados, por meio de Cristo. As exigências da santidade e da justiça foram satisfeitas. . . Deus, em Cristo, está pronto para receber-nos . . . Deus, em Cristo, oferece-nos remissão e perdão, e, em vez de maldição, bênção. Sem Deus não podemos ser felizes, «pois para o ímpio não há paz, diz o meu Deus».



Por mais que tentemos, conforme tem feito a humanidade, não obteremos êxito. O primeiro passo consiste de obter o favor de Deus, o que gloriosamente, em Cristo, é possível — na verdade, é-nos oferecido.


5 -A gloriosa tarefa de negar a mim mesmo – M. Lloyd-Jones (1899-1981).



Quando me defronto a esta formidável e gloriosa tarefa de negar-me a mim mesmo, tomar a cruz e seguir ao Senhor Jesus Cristo, dou-me conta de que devo andar por este mundo como Ele andou.



Quando percebo que nasci de novo e fui modelado por Deus conforme a imagem do Seu bem-amado Filho, e quando me ponho a perguntar: «Quem sou eu para viver assim? Como posso alimentar a esperança de fazer isso?» — eis a resposta: a doutrina do Espírito Santo, a verdade de que o Espírito Santo habita em nós. Que ensina ela? Primeiramente, faz-me lembrar o poder do Espírito Santo que está em mim.



O apóstolo Paulo já o dissera, no versículo 13 (de Romanos 8) . . . «Se viverdes segundo a carne, caminhais para a morte; mas, se pelo Espírito mortificardes os feitos do corpo, certamente vivereis». Aqui ele volta ao mesmo ensino: «Pois Deus não nos tem dado.espírito de covardia».



O que, em outras palavras, ele está dizendo aos romanos é: «É preciso que compreendais que não estais vivendo por vós mesmos. Haveis pensado nesta vossa tarefa como se vós somente, e por vós mesmos, tivésseis que viver a grandiosa vida cristã. Entendeis que estais perdoados, e podeis agradecer a Deus que vossos pecados foram cancelados e lavados, mas parece que pensais que isso é tudo e que vos deixaram para que vivais por vossa conta a vida cristã. Se pensais desse modo», diz Paulo, «não admira que estejais sob o espírito de covardia e servidão, pois não tendes esperança nenhuma de viver esta vida cristã, e, dessa maneira, tendes uma nova lei que é infinitamente mais difícil do que a antiga. Mas a situação não é essa, porquanto o Espírito Santo habita em vós».


6 -O Evangelho completo - para o homem completo – M. Lloyd-Jones


Precisamos ter a mensagem integral ... «anunciar todo o desígnio de Deus» (Atos 20.27). ... Principia com a Lei. A Lei de Deus ... as exigências de um Deus santo, a ira de Deus. Esse é o modo de levar homens e mulheres à convicção; não é modificando a Verdade. ... Devemos confrontá-los com o fato de que são seres humanos, de que são seres humanos falíveis, de que estão sujeitos à morte, de que são pecadores, e de que todos terão de comparecer perante Deus, levados ao Tribunal do Juízo Eterno...

Depois devemos apresentar-lhes a ampla e completa doutrina da graça de Deus para a salvação em Jesus Cristo. Devemos demonstrar que ninguém é salvo «pelas obras da Lei», por sua bondade ou retidão pessoal, nem por ser membro de igreja nem por nenhuma outra coisa senão unicamente, totalmente, inteiramente pelo livre dom de Deus em Jesus Cristo, Seu Filho. ... Devemos pregar a doutrina em sua completa amplitude, sem deixar nada — a convicção de pecado, a realidade do Juízo e do inferno, a livre graça, a justificação, a santificação, a glorificação.

Devemos também mostrar que há uma perspectiva mundial na Bíblia ... que somente ali você pode compreender a história - passada, presente e futura. Exibamos essa grande visão mundial, e o propósito do Deus eterno...

Ao mesmo tempo, tenhamos bastante cuidado no sentido de que a estamos dando ao homem completo. ... o Evangelho não é só para o coração do homem; cuide de começar pela cabeça dele, apresentando-lhe a Verdade. ... Mostremos que se trata de uma grandiosa mensagem dada por Deus, que nos compete comunicar à mente, ao coração, à vontade. Há sempre o perigo de deixar de lado uma ou outra parte da personalidade humana. ... estejamos certos de que nos dirigimos ao homem todo - sua mente, suas emoções e sua vontade.

7 -A Experiência da Presença de Deus – M. Lloyd-Jones


. . .precisamos dar-nos conta de que estamos na presença de Deus. Que significa isso? Significa a percepção de algo de quem Deus é e do que Ele é. Antes de começar a proferir palavras, devemos sempre • proceder assim.  Devemos dizer-nos a nós mesmos: «Estou entrando agora na sala de audiências daquele Deus,  o Todo-poderoso,   o  absoluto, o eterno e grande Deus, com todo o Seu poder, força e majestade, aquele Deus que é fogo consumidor, aquele Deus que é luz, e não há nele treva nenhuma, aquele perfeito, absoluto e Santo Deus. É isso que estou fazendo» . . . Mas, acima de tudo, nosso Senhor insiste em que devemos aperceber-nos de que, além de tudo aquilo, Ele é nosso Pai. . .

Oh, que compreendamos essa verdade! Se tão-somente entendêssemos que este Deus onipotente é nosso Pai mediante o Senhor Jesus Cristo! Se tão-somente compreendêssemos que . . .toda vez que oramos é como um filho dirigindo-se a seu pai! Ele sabe todas as coisas que nos dizem respeito; Ele conhece cada uma de nossas necessidades antes que Lhas contemos. . . Ele deseja abençoar-nos muitíssimo mais do que desejamos ser abençoados. Ele tem opinião formada a nosso respeito, Ele tem um plano e um programa para nós, Ele tem uma ambição a favor de nós, digo-o com reverência, uma inspiração que transcende o nosso mais elevado pensamento e imaginação. . .

Ele cuida de nós. Ele já contou os cabelos de nossa cabeça. Ele disse que nada nos pode suceder fora dEle. Depois, é preciso que lembremos o que Paulo declara tão gloriosamente em Efésios 3. Ele é «poderoso para fazer infinitamente mais do que tudo quanto pedimos,, ou pensamos». Esse é o verdadeiro conceito da oração, diz Cristo. Não se trata de ir fazer girar a roda de orações. Não basta contar as contas. Não diga: «Devo passar horas em oração; decidi-me a fazê-lo e tenho que fazê-lo» . . . Temos que despojar-nos dessa noção matemática da oração. O que devemos fazer, antes de tudo, é dar-nos conta de quem é Deus, do que Ele é, e de nossa relação com Ele.

8 -Um Evangelho honesto! – M. Lloyd-Jones

(A vida cristã) não é vida que no início seja lindamente ampla e que, à medida em que você prossegue, vá ficando cada ve2 mais estreita. Não! Já desde o portal, no próprio caminho de entrada a essa vida, há vereda estreita. . . Muitíssimas vezes têm-se a impressão de que ser cristão é, afinal, bem pouco diferente de não ser cristão, de que você não precisa pensar no cristianismo como uma vida estreita, mas como algo atraente, maravilhoso e emocionante, e de que entramos ali formando multidões. Isso não está de acordo com nosso Senhor.

O Evangelho de Jesus Cristo é por demais honesto, para ficar dirigindo convites dessa natureza às pessoas. Ele não tenta persuadir-nos de que se trata de algo fácil, sendo que só mais tarde começaremos a descobrir quão difícil é realmente. O Evangelho de Jesus Cristo apresenta-se franca e incondicio¬nalmente como algo que começa com uma entrada estreita, com uma porta estreita. . .

É-nos dito logo no início deste caminho da vida, antes de começarmos a marcha, que se queremos percorrê-lo há certas coisas que terão de ser deixadas de lado, para trás de nós. Não há espaço para elas passarem, porque temos que começar entrando por uma porta estreita e apertada. Gosto de imaginá-la como um torniquete.

A porta é bem parecida com um torniquete que admite uma pessoa por vez, e somente uma. E é tão estreita que há certas coisas que você simplesmente não pode levar com você. Desde o começo o caminho é exclusivo, e importa que examinemos o Sermão da Montanha para vermos algumas coisas que é preciso deixar atrás.

A primeira coisa que deixamos para trás é o que se chama de mundanismo. Deixamos atrás a multidão, o modo de viver do mundo. . . O modo cristão de viver não goza de popularidade. . . Você não pode levar a multidão em sua companhia na carreira da vida cristã; esta, inevitavelmente, requer rompimento.

9 -Na Presença de Deus – M. Lloyd-Jones


- Quando acordo, ainda estou contigo -

Sempre estamos na presença de Deus. Sempre estamos sob o Seu olhar. Ele vê cada uma de nossas ações e mesmo cada um dos nossos pensamentos. . . Ele está em toda parte . . . Ele vê tudo. Ele conhece o seu coração; os outros não o conhecem assim. Você pode enganar a eles e pode persuadi-los de que você não é nem um pouco egocêntrico; mas Deus conhece o seu coração. . .

Quando despertamos pela manhã, imediatamente devemos lembrar e meditar que estamos na presença de Deus. Seria boa idéia dizer a nós mesmos, antes de sair: «Durante este dia inteiro, tudo o que eu fizer, disser, experimentar, pensar e imaginar estará sob os olhos de Deus. Ele estará comigo; Ele vê tudo; Ele sabe todas as coisas. Não há nada que eu possa fazer ou procurar fazer de que Deus não esteja ciente de modo pleno e total. «Tu, ó Deus, me vês».

Nossa vida sofreria verdadeira revolução se agíssemos sempre assim. . . os numerosos livros que tratam da vida de devoção se concentram todos nesse ponto. . . Esta é uma verdade fundamental, a mais séria de todas — que estamos sempre na presença de Deus. Ele vê todas as coisas e conhece-as a todas, e jamais nos podemos furtar da Sua vista (ver o Salmo 139) ... Se tão-somente nos lembrássemos disto, a hipocrisia se desvaneceria, a bajulação de nós mesmos, e tudo quanto fazemos de pecaminoso, por acharmos que somos superiores aos outros, desapareceria de imediato. . .

Se todos nós adotássemos aquela prática, ela seria revolucionária. Tenho toda a certeza de que teria início um reavivamento para valer. Que diferença faria na vida da igreja e na vida de cada indivíduo! Pensemos em tudo que é pretensão e fingimento, em tudo que é indigno em todos nós! Se tão-so¬mente nos déssemos conta de que Deus está olhando para todos, e tem ciência de tudo isso, e de que tudo anota!. . . a pessoa que começa tendo verdadeira percepção dessa realidade, logo será vista ir correndo para Cristo e Sua cruz, rogando que Deus a encha do Espírito Santo.

10- A Paz de Deus - M. Lloyd-Jones


Oh, paz maravilhosa, maravilhosa e doce paz — o dom do amor de Deus!

Que diremos desta frase: «.  . .a paz de Deus, que excede todo o entendimento. . .»? (Filipenses 4:7). Você não pode compreender essa paz, não a pode imaginar, em certo sentido nem crer nela você pode, e, não obstante, ela está acontecendo e você a está experimentando e desfrutando. É a paz de Deus que está em Cristo Jesus.

Que quer ele dizer com isso? Ele está dizendo que essa paz de Deus opera pela apresenteção do Senhor Jesus Cristo a nós, fazendo-O bem vivo â nossa memória. Ou, nas palavras do argumento da Epístola aos Romanos: «Porque se nós, quando inimigos, fomos reconciliados com Deus mediante a morte do seu Filho, muito mais, estando já reconciliados, seremos salvos pela sua vida» (Romanos 5.10 — ver também Romanos 8.28,32).

«Porque eu estou bem certo de que nem morte, nem vida, nem anjos, nem principados, nem cousas do presente, nem do porvir, nem poderes, nem altura, nem profundidade, nem qualquer outra criatura poderá separar-nos do amor de Deus. que está em Cristo Jesus nosso Senhor» (Romanos 8.38,39)- O argumento é que se Deus fez o máximo por nós, com a morte de Seu Filho na cruz, não pode abandonar-nos agora, não pode deixar-nos na metade do caminho, por assim dizer. Assina, a paz de Deus, que excede todo o entendimento, guarda os nossos corações e as nossas mentes em Jesus Cristo e medi¬ante Ele. Deste modo Deus garante a nossa paz, bem como nossa libertação da ansiedade.

11- Pelo que você vive? – Martyn Lloyd-Jones



Eis o servo do Senhor.

Cristão é aquele que por necessidade tem que estar interessado em guardar a lei de Deus. . . Não estamos «sob a lei», mas a intenção de Deus ainda é que a guardemos; a «justiça da lei» é para ser «cumprida em nós», diz o apóstolo Paulo, escrevendo aos Romanos. . . Assim, é cristão aquele que está sempre interessado em viver e cumprir a lei de Deus. Aqui se lhe faz lembrar como é que se deve fazer isso.

Volto a dizer que uma das coisas mais óbvias e essenciais quanto ao cristão é que ele vive sempre cônscio de que está na presença de Deus. O mundo não vive desta maneira; essa é a grande diferença existente .entre o cristão e o não cristão.

O cristão. . . não é, por assim dizer, um livre agente. Ele é filho de Deus, de modo que tudo quanto faz o faz do ponto-de-vista de estar sendo agradável aos olhos de Deus. Aí está porque o cristão, necessariamente, deve ver tudo o que lhe sucede neste mundo de maneira inteiramente diversa de toda gente. . . O cristão não se aflige por causa de comida, bebida, casa e roupas. Não é que ele diga que essas coisas não lhe importam, mas elas não constituem o seu principal interesse, não são as coisas pelas quais ele vive.

O cristão não se apega demais a este mundo e seus lidares. Por que? Porque pertence a outro reino e a outro modo de ser. Ele não se retira do mundo; esse foi o erro do monasticismo da Igreja Católica  Romana. O Sermão da Montanha não lhe ordena que fuja da vida para viver a vida cristã. Porém diz, isto sim, que a sua L atitude é por completo diferente da do não-cristão, por causa da relação que há entre você e Deus, e por causa de sua total dependência dEle.

12- Você tem sede de Deus? M. Lloyd-Jones


Eu tenho fome e sede;
és meu maná, Jesus;
águas vivas brotai
da rocha para mim


Que significa («ter fome e sede»)?. . . significa ter consciência de nossa necessidade, de nossa profunda necessidade . . .consciência de nossa desesperada necessidade; significa ter profunda consciência de nossa grande necessidade, a ponto de sentirmos dor. Significa algo que persiste enquanto não for atendido. Não se trata de sentimento passageiro, de desejo passageiro. Você se lembra de como Oséias diz à nação de Israel que ela, por assim dizer, está sempre vindo à frente, em atitude de arrependimento, para logo voltar ao pecado. Sua justiça, diz ele, é como «nuvem matinal» — está aqui num minuto e, no seguinte, já se foi. . . «Fome» e «sede» não são sentimentos passageiros. Fome é coisa séria e profunda que dura enquanto não for saciada. Ela machuca, é dolorosa, mais ou menos como a fome e a de físicas propriamente ditas. É algo que continua e vai crescendo, até levar-nos ao desespero. É uma coisa que causa sofrimento e agonia. . .

Ter fome e sede é ser como o homem que quer alcançar uma posição. Não repousa, não pode ficar quieto; trabalha e labuta sem cessar; pensa nisso, sonha com isso; aquilo que ambiciona torna-se a paixão dominante de sua vida. . . «Famintos e sedentos» . . . O salmista resumiu o ponto em foco magistralmente, numa frase clássica: «Como suspira a corça pelas correntes das águas, assim, por ti, ó Deus, suspira a minha alma. . .» Tomo a liberdade de citar algumas palavras do grande J. N. Darby, que penso haver descrito muito bem a situação. Diz ele: «Ter fome não basta; é preciso que eu esteja morrendo de fome para saber o que está no Seu coração para comigo».

Em seguida vem esta afirmação perfeita, que define o assunto inteiro: «Quando o filho pródigo sentiu fome, foi atrás de bolotas para alimentar-se, mas, quando ficou morrendo de fome, voltou ao pai». Pois bem, a situação toda é essa. Ter fome e sede significa estar, de fato, desespe¬rado, estar morrendo à míngua, sentir esvair-se a vida, reconhecer minha urgente necessidade de socorro.

13- Equilíbrio - Martyn Lloyd-Jones



O apóstolo já nos tem exortado nesta Epístola aos Efésios acerca do que ele chama "parvoíces e chocarrices". Não devemos ser pomposos, não devemos apresentar-nos com excessiva seriedade, mas isso é muito diferente do erro das "parvoíces e chocarrices". Muitas vezes fico surpreso por ouvir cristãos cedendo a essas "parvoíces e chocarrices". Verifiquemos que não estamos produ¬zindo uma atmosfera nociva com esse tipo de coisa. Essa espécie de conversa pertence ao mundo, não a nós. Isso é a instrução das Escrituras.

O mundanismo, naturalmente, tem muitas formas, e há perigos específicos. O apóstolo adverte Timóteo, na Primeira Epístola, capítulo 6, versículo 9: "Os que querem ser ricos caem em tentação, e em laço, e em muitas concupiscências loucas e nocivas, que submergem os homens na perdição e ruína. Porque o amor ao dinheiro é a raiz de toda a espécie de males; e nessa cobiça alguns se desviaram da fé, e se traspassaram a si mesmos com muitas dores. Mas tu, ó homem de Deus, foge destas coisas". Paulo aí condena o amor ao dinheiro. O dinheiro como tal não é mau, se o homem o usa apropriadamente, como despenseiro do Senhor Jesus Cristo. Contudo, no momento em que o homem começa a amar o dinheiro, entra o pecado. Tenho bastante idade para poder dizer que tenho visto muita gente boa sair-se mal nesse ponto. Uma vez que acontece isso, a temperatura espiritual sempre abaixa, e ocorre uma rápida perda de vigor espiritual. Conheci homens que foram convertidos de uma vida muito pecaminosa, e que, por causa da sua conversão, começaram a dar atenção ao seu trabalho, progrediram e tiveram sucesso; e tive a infeliz experiência de ver alguns deles caírem na armadilha de que estamos falando. Antes, jogavam fora o seu dinheiro; agora, começaram a amá-lo. Ambos os extremos são maus.

Outra causa da perda de vigor e energia espiritual, e de deixar de ser "forte no Senhor e na força do seu poder", é a enervante atmosfera da respeitabilidade. É um perigo muito comum na Igreja. Às vezes me pergunto se não é a maior maldição na hora presente. Pelo menos, as estatísticas provam claramente que, por uma razão ou outra, o cristianis¬mo atual não está sensibilizando as classes trabalhadoras deste país. Será, às vezes me pergunto, porque estamos dando a impressão de que o cristianismo é só para as respeitáveis classes médias? Examinemo-nos a nós mesmos sobre isso. Tememos a manifestação do Espírito? Pesa sobre nós a culpa de apagar o Espírito? Tememos a vida, o vigor e o poder? Quantas vezes vi homens que começaram com fogo se tornarem cristãos simplesmente respeitáveis, finos - inúteis, sem nenhuma energia, sem nenhum vigor, sem nenhum poder!

Permitam-me ilustrar isso outra vez com fatos da esfera do ministério. Conheci homens que entraram no ministério e que sem dúvida eram homens chamados por Deus, cheios de paixão pelas almas e revestidos de poder na pregação. Vi-os terminarem apenas como bons pastores, bons visitadores. Visitar faz parte do ministério pastoral; mas se o homem se torna apenas um homem agradável, um pastor bondoso, excelente para receber-se em casa, alguém que toma uma xícara de chá com você, é trágico. Que tragédia o profeta acabar sendo tão-somente um homem amável e um pastor bondoso! Mais uma vez estamos vendo que sempre devemos procurar evitar os extremos. No entanto, não há nada que possa ser tão enervante como esse tipo de atmosfera fina e respeitável, na qual ficamos temendo quase tudo, e, acima de tudo, ficamos temendo a manifestação do poder do Espírito Santo. Por isso, começamos a "extinguir o Espírito"!

É evidente que há aplicações intermináveis deste tema. Ele constitui o fundo e base racional do ensino que se vê em 2 Coríntios, capítulo 6, sobre "não nos prendermos a um jugo desigual com os infiéis". Isso se aplica primariamente ao casamento. A razão pela qual o cristão não deve casar-se com alguém incrédulo é que, fazendo isso, ele se põe numa atmosfera nociva, que tende a minar a sua energia e vitalidade espiritual. Isso é inevitável, como se vê no fato de que desse modo ele se associou e se prendeu a alguém que não tem vida e entendimento espiritual. Ele, não o seu cônjuge, é que sofrerá as conseqüências. Por conseguinte, somos exortados a não nos sujeitarmos a um jugo desigual com os infiéis.

14- O Coração da Mensagem Cristã – M. Lloyd-Jones



O próprio coração da mensagem cristã é que Deus tomou os nossos pecados e os imputou a Jesus Cristo - "não os imputando a nós", afirma Paulo, porque os imputou a Ele. "Imputar" significa considerá-los, colocá-los na conta de alguém. É como se um homem rico fosse a uma loja ou armazém e dissesse: "Quero que mande as seguintes mercadorias a tal endereço, mas não lhes mande a conta; ponha na minha conta; impute isso a mim". Deus tomou os nossos pecados e os imputou a Cristo, colocou-os na Sua conta e os puniu nEle. "Ele o fez pecado por nós" - em nosso lugar. Deus feriu o Seu próprio Filho por causa dos nossos pecados. Cristo sofreu o nosso castigo. O apóstolo Pedro escreve: "Levando ele mesmo em seu corpo os nossos pecados sobre o madeiro, para que, mortos para os pecados, pudéssemos viver para a justiça; e pelas suas pisaduras fostes sarados"(l Pedro 2:24).

Mas Deus fez também algo mais; Ele pôs a justiça de Cristo em nossa conta. O Senhor Jesus Cristo nunca pecou; Ele obedeceu a Lei de Deus em todos os pormenores. O Pai ficou satisfeito com Ele; Ele tinha feito tudo o que o Pai O enviara para fazer. Ele foi descrito pelo arcanjo Gabriel a Maria como "o Santo" (VA: "a coisa santa") (Lucas 1:35). Ele nasceu cheio de retidão, guardou perfeitamente a Lei e agradou a Deus em tudo, prestando uma obediência perfeita. O que Deus faz é tomar a justiça de Cristo e pô-la em nossa conta. Há, por assim dizer, uma grande transação, uma grande transferência no livro-razão do céu. A nossa injustiça foi posta sobre Ele; a justiça dEle é posta sobre nós. E assim Deus, tendo tirado de nós os nossos pecados, e tendo posto sobre nós a justiça de Cristo, declara-nos justos. Esta é a gloriosa verdade que capacitou o conde Zinzendorf a escrever o grande hino que João Wesley traduziu com tanta nobreza:

Jesus, Teu manto de justiça
E minha veste, é minha glória;
Em meio a mundos flamejantes
Feliz afronte eu erguerei.
No grande dia estarei de pé;
Quem minha culpa levará?
Graças a Ti, absolvido fui
Do vil pecado, medo e culpa.
Jesus, a Ti louvor eterno!
Misericórdia tens por mim;
Plena expiação por mim fizeste,
Pagaste eterna remissão.

A palavra da fé que pregamos é que a nossa salvação é, toda ela, ação de Deus por meio deste único Senhor Jesus Cristo. E por isso que "uma só fé" segue-se a "um só Senhor". O "um só Senhor" foi enviado pelo Pai. Ele tomou sobre Si a natureza humana, viveu uma vida perfeita na terra, e então "Deus lançou sobre ele a iniqüidade de todos nós" e transfere para nós a Sua justiça. Esta nos vem pela fé, pela "uma fé", a única fé. Não contribuímos com nada para tudo isso. Os nossos feitos, as nossa ações não desempenham parte alguma, a nossa bondade não entra, pois não é bondade aos olhos de Deus, é apenas como "esterco" e refugo aos olhos de Deus. A nossa busca não ajuda, a nossa capacidade não ajuda, nada em nós ajuda, em absoluto. É tudo de Deus, é tudo de graça, é tudo feito por Deus, do princípio ao fim.

A justiça é posta sobre nós. Estávamos em andrajos, por assim dizer, como condenados no banco dos réus; mas Deus enviou Cristo, pelo Espírito, para tirar-nos os trapos e vestir-nos com o manto da

perfeita justiça de Cristo. Deus agora olha para nós e vê, não os nossos pecados, porém a justiça de Cristo. Ele nos vê "em Cristo". O nosso nascimento natural não faz nenhuma diferença, a nossa nacionalidade não entra nisso. O grau do arrependimento que experimentamos não importa, nem o volume da emoção que o acompanha. Se fizermos do nosso arrependimento um ato meritório, estaremos negando a fé. O que somos, ou o que fizemos ou não fizemos, não conta; nada em nós conta; a nossa justiça está toda em Cristo, e pela fé, somente pela fé. O apóstolo já nos dissera no capítulo 2, versículo 8, que a salvação não vem de nós: "Pela graça sois salvos, por meio da fé; e isto não vem de vós; é dom de Deus". Esta justiça de Cristo nos é dada, e passa a ser nossa, mediante a instrumentalidade da fé, que também é dom de Deus.

15- A Verdade é Externa – D. M. Lloyd-Jones


Não pode haver dúvida de que todos os problemas da Igreja hoje, e a maioria dos problemas do mundo, devem-se ao abandono da autoridade da Bíblia. E, que pena! Foi a própria Igreja que introduziu a chamada Alta Crítica que veio da Alemanha há mais de cem anos. A filosofia humana tomou o lugar da revelação, as opiniões do homem foram exaltadas e os líderes da Igreja falavam do "progresso do conhecimento e da ciência", e dos "seguros resultados" desse conhecimento. A Bíblia passou a ser então simplesmente como qualquer outro livro, obsoleto em certos aspectos, errado noutros, e assim por diante. Deixou de ser um livro em que se podia confiar implicitamente. Não se pode contestar que a queda na freqüência à igreja neste país é conseqüência direta da Alta Crítica. O homem da rua diz: "Que é que estes cristãos sabem? É só opinião deles; eles estão perpetrando algo que os verdadeiros pensadores e cientistas de há muito verificaram e pararam de considerar". Essa é a atitude do homem da rua! Ele não ouve mais, perdeu todo o interesse. A situação em geral é de deriva; e, em grande parte, repito, é resultado direto e imediato da dúvida que a própria Igreja lançou sobre a única autoridade verdadeira. As opiniões dos homens tomaram o lugar da verdade de Deus, e as pessoas, em sua necessidade, estão procurando as seitas e estão dando ouvidos a qualquer falsa autoridade que se lhes ofereça.

Portanto, todos nós temos que enfrentar esta questão crucial e fundamental; aceitamos a Bíblia como a Palavra de Deus, como a única autoridade em todas as questões de fé e prática, ou não? Seria todo o meu pensamento governado pelas Escrituras, ou eu venho com a minha razão a fim de selecionar e destacar partes das Escrituras, para fazer-me seu juiz, pondo-me e pondo o conhecimento moderno como o padrão supremo e a autoridade final? A questão é clara como cristal. Porventura aceito as Escrituras como revelação de Deus, ou confio na especulação, no conhecimento humano, no saber humano, no entendimento humano e na razão humana? Ou, fazendo uma colocação ainda mais simples: eu ligo a minha fé e submeto todo o meu pensamento ao que leio na Bíblia? Ou será que cedo-me ao conhecimento moderno, ao saber moderno, ao que as pessoas pensam hoje, ao que sabemos nestes tempos presentes e que não se sabia no passado? É inevitável que ocupemos uma destas duas posições.

A posição protestante, como aconteceu com a Igreja Primitiva nos primeiros séculos, é que a Bíblia é a Palavra de Deus. Não que a "contém", mas que ela é a Palavra de Deus, inspirada e inerrante em sentido único. Os reformadores protestantes criam, não somente que a Bíblia contém a revelação da verdade de Deus aos homens, porém também que Deus salvaguardava a verdade exercendo controle sobre os homens que a escreveram, mediante o Espírito Santo, e que Ele os mantinha livres de erro, de mácula e de toda forma de engano. Essa é a posição protestante tradicional, e no momento em que a abandonarmos, já começamos a andar pela estrada que leva de volta a uma das falsas autoridades e, como é provável, finalmente a Roma. Em última análise, esta é a única alternativa.

As pessoas querem ter uma autoridade em que se firmar; e estão certas em pensar assim. Precisam de autoridade porque estão desnorteadas; e se não a acharem seguindo o caminho certo, vão buscá-la no caminho errado. Poderão ser persuadidas mesmo que não saibam a origem da autoridade; em sua total desorientação, estão prontas a deixar--se persuadir por qualquer afirmação autoritária. Dessa maneira, chega-se ao seguinte: voltamos exatamente ao ponto em que estavam os cristãos há 400 anos. O mundo fala do seu progresso no conhecimento, da sua ciência etc, mas o fato é que estamos girando em ciclos, e estamos de volta exatamente onde os cristãos estavam há 400 anos. Temos que travar mais uma vez todo o combate da Reforma Protestante. Ou é este Livro, ou, em última instância, é a autoridade da igreja de Roma e a sua "tradição"! Esse foi o grande impasse na Reforma Protestante. Foi por causa do que eles encontraram na Bíblia que aqueles homens se levantaram contra a igreja de Roma, questionaram-na e a contestaram, e finalmente a condenaram. Foi somente isso que capacitou Lutero a permanecer firme, um único homem, desafiando todos aqueles doze séculos de tradição. "Não posso fazer outra coisa", disse ele, por causa daquilo que ele tinha encontrado na Bíblia. Ele pôde ver que Roma estava errada. Não importava que ele estivesse só, e que todos os grandes batalhões estivessem contra ele. Ele tinha a autoridade da Palavra de Deus, e ele julgava a igreja católica romana, sua tradição e tudo o mais por meio dessa autoridade externa.

16-A Sabedoria Humana é inútil no Reino - M. Lloyd-Jones


Hoje os homens continuam pondo a sua confiança na filosofia humana. A Igreja está fazendo isso; ela cita os filósofos, encontra "percepções" numa variedade de religiões e nos ensinos dos filósofos, sejam eles cristãos ou não. Se são homens capazes, homens de cultura e pensadores profundos, argumenta-se que eles devem ter algo para dizer-nos! Mas isso é uma completa negação de toda a base da pregação apostólica.

"O mundo não conheceu a Deus pela sua sabedoria"; e a razão disso é óbvia. Obvia por causa do caráter e da personalidade de Deus. E em 1 Coríntios, capítulo 2, Paulo afirma que "nenhum dos príncipes deste mundo conheceu" e não reconheceu o nosso Senhor. "Falamos sabedoria", diz Paulo, "entre os perfeitos; não, porém, a sabedoria deste mundo, nem dos príncipes deste mundo, que se aniquilam" (versículo 6). A sabedoria humana, mesmo em seus príncipes, em seus maiores homens, é inadequada; ela nunca nos levará à verdade. Isso porque Deus é o que Ele é! Deus é infinito, absoluto e eterno em todos os aspectos. Deus é! E no momento em que você compreende essa verdade, você vê como o homem jamais tem possibilidade de chegar ao conhecimento de Deus. Como pode a mente finita abarcar o Infinito? Como pode o homem mortal chegar a um verdadeiro conhecimento do Deus imortal, do Deus que diz: "Eu sou o que sou", do Deus que é de eternidade a eternidade, absoluto em todos os aspectos, do Deus que é "luz, e não há nele treva nehuma?"

Mesmo que o homem fosse perfeito, não poderia chegar ao conhecimento do Deus infinito, pois, em comparação com Deus, o homem não é nada. Se você pode abarcar algum conhecimento com o seu cérebro, significa que o seu cérebro é maior do que o objeto que você abarca. Assim, quando o homem tenta entender Deus, e vê-lo mediante a sua pesquisa, o seu poder, o seu intelecto e seu entendimento, está pressupondo que ele é maior do que Deus e que Deus é alguém que está aberto para ser examinado. A própria idéia disso é monstruosamente ridícula.
No entanto, quando nos damos conta de que o homem não somente é finito, mas também é pecador, decaído, transviado, pervertido, aquela postura se torna ainda mais ridiculamente impossível. Vejam o argumento: "Qual dos homens sabe as coisas do homem, senão o espírito do homem, que nele está?" (1 Coríntios2:l l).Tem que haver uma correspondência. Se você quer apreciar música, tem que ter alguma sensibilidade musical. Há pessoas que absolutamente não apreciam música. Podem ter grandes intelectos, porém não têm ouvido, não podem apreciá-la. É preciso haver alguma correspondência ou correlação antes de poder haver entendimento. E o mesmo se aplica ao domínio espiritual. Deus não é só infinito, absoluto e eterno; "Deus é luz, e não há nele treva nenhuma". Não há comunhão entre a luz e as trevas, não há correspondência entre o preto e o branco. Deus é sempiternamente santo, e cada um de nós é pecador, indigno e vil. E o resultado, como diz o apóstolo, é que, para cada uma dessas pessoas "naturais", as coisas do Espírito de Deus são "loucura" (1 Coríntios 2:14). O homem por natureza não somente não pode chegar ao conhecimento; quando lhe é dado o conhecimento, ele o rejeita com escárnio. É absurdo para ele, é loucura. "Os gregos buscam sabedoria", mas o evangelho é "loucura" para eles. E tão completamente diferente do que eles crêem, do que eles são e do que eles têm! E assim será por toda a eternidade. A passagem das eras não faz diferença. Deus não muda, o homem não muda, o pecado não muda e, portanto, o que quer que possamos conhecer cientificamente hoje, que os nossos antepassados não conheceram, não faz a mínima diferença. Assim, estamos de novo na antiga situação: "O mundo não conheceu a Deus pela sua sabedoria". Não podia conhecê-lO. "O homem natural não compreende as coisas do Espírito de Deus... e não pode entendê-las." O homem não pode entendê-las por causa da sua fraqueza, incapacidade e pecaminosidade, e por causa da grandeza de Deus.

Todos nós estamos, pois, nesta situação, que, mesmo empregando todos os nossos esforços, por estes nunca chegaremos a este conhecimento de Deus. Pois bem, então, seria possível o conhecimento? Se devo cingir os meus lombos com a verdade, como posso achá-la? Há somente uma resposta: se havemos de ter algum conhecimento da verdade, é preciso que nos seja dado por Deus. Terá que ser revelado a nós. "É sobremodo elevado, não o posso atingir", diz o salmista (Salmo 139:6, ARA). Mas Deus, se quiser, pode dar-nos o conhecimento que desejamos. E a mensagem geral da Bíblia, do princípio ao fim, é justamente esta, que Ele o fez. "Como na sabedoria de Deus o mundo não conheceu a Deus pela sua sabedoria, aprouve a Deus salvar os crentes pela loucura da pregação" - pela mensagem que Ele enviou por meio dos Seus servos. Esse é outro modo de declarar o fato da revelação.
Consideremos por ora a maneira pela qual o apóstolo Paulo expôs o assunto quando ele estave pregando em Atenas e se dirigia aos estóicos e aos epicureus. E, para mim, não somente a tragédia das tragédias, mas também quase inexplicável, o fato de que a Igreja Cristã, no século passado, deliberadamente introduziu de novo a filosofia na Igreja e a colocou numa posição central. É uma negação fundamental da totalidade do evangelho. E ela continua fazendo isso. Temos que levantar-nos diante do mundo e dizer o que Paulo disse em Atenas: "Esse, pois, que vós honrais, não o conhecendo..." (Atos 17:22 e seguintes). Eles estavam tentando achá-lO; não somente haviam erigido templos dedicados aos seus diversos deuses, porém havia aquele estranho altar, que trazia a inscrição: "Ao Deus Desconhecido". Eles tinham a sensação de que Ele estava nalgum lugar. As raças mais primitivas têm uma crença num Deus supremo. Não O conhecem, estão tentando achá-lO - e era assim com os gregos! "O Deus Desconhecido!" E Paulo olha para eles e diz: "Esse, pois, que vós honrais não o conhecendo" - ou esse que estais tentando honrar - "é o que eu vos anuncio" (ou "vos declaro", VA). Ele está fazendo uma declaração.
Lá estavam pessoas andando às tontas, às apalpadelas, na escuridão, e então chega um homem com autoridade e diz: "Esse é o que eu vos declaro". Eis aí conhecimento, informação. Isso é revelação! Essa é toda a posição bíblica. Em nossa incapacidade, em nossa condição finita, em nossa pecaminosidade, não podemos, nem nunca poderemos chegar ao conhecimento de Deus. E estamos tão presos a essa condição que, se a Deus não aprouvesse dar-nos o conhecimento, dar-nos a revelação, não teríamos nada, estaríamos destruídos, estaríamos sem nenhuma esperança, "sem Deus no mundo". Mas, diz a Bíblia, Deus fez precisamente isso! Essa é a glória da mensagem, essas são as boas novas da salvação; a Deus aprouve dar-nos esta revelação. Essa é a mensagem da Bíblia toda; é o que ela proclama do começo ao fim. "No princípio... Deus". É uma declaração autoritária. Como foi que Moisés fez a declaração autoritária? Foi-lhe dada. Assim vocês vêem o autor da Epístola aos Hebreus dizendo que "pela fé entendemos que os mundos pela palavra de Deus foram criados". Sabemos isso "pela fé"; foi dado; é uma revelação.
Essa é a reivindicação do Velho Testamento; e, nesta questão, o Velho Testamento é tão importante como o Novo. Os dois andam j untos, um levando o outro. Moisés escreveu cinco livros, não por sua sabedoria pessoal, não por sua própria filosofia. Ele não nos oferece suas idéias pessoais e o seu entendimento. A verdade lhe foi revelada, e ele foi capacitado pelo Espírito Santo para escrevê-la. Quando chegam aos profetas, vocês vêem exatamente a mesma coisa. Nem um só profeta se levantou e disse: "Estou dizendo isso porque pensei muito neste assunto; meditei e li muito a respeito, e cheguei a esta conclusão". Não é isso que eles dizem. Em vez disso, eles falam do "fardo do Senhor"; "veio a mim a mensagem do Senhor"; ou "o Espírito de Deus veio sobre mim". Alguns deles não queriam entregar a mensagem. Jeremias diz: "Eu gostaria de não ter que falar; só entro em dificuldade quando falo". Mais de uma vez resolveu que nunca mais falaria, mas disse: "A Palavra de Deus foi como fogo ardente dentro de mim, e não pude refrear-me". Essa era a situação deles. O salmista diz quase a mesma coisa.

A Bíblia é resultado da ação de Deus inquietando homens pelo Espírito, dando-lhes a mensagem, e depois os capacitando a transmiti-la, falando ou escrevendo.
 
  17 -   A graça foi mais abundante - Martyn Lloyd-Jones




Você e eu não temos que estar olhando nossa vida passada; nunca devemos ficar olhando para qualquer pecado que tenhamos cometido no passado, de modo nenhum, a não ser para louvar a Deus e engrandecer a Sua graça em Cristo Jesus. Eu o desafio a fazer isso. Se você olhar para o seu passado e este o deixar deprimido. . . você deverá fazer o que Paulo fez. «Eu fui blasfemo», disse ele, mas não parou aí. Disse em seguida: «Sou indigno de ser pregador do Evangelho»?


O que na verdade ele diz é exatamente o oposto: «Sou grato para com aquele que me fortaleceu, a Cristo Jesus nosso Senhor, que me considerou fiel, designando-me para o ministério». Quando Paulo olha para o passado e vê seu pecado, não fica recolhido, de castigo num cantinho, a dizer: «Não presto para ser cristão; fiz coisas horríveis». Nada disso. O que tudo isso produz nele, o efeito que lhe causa, é levá-lo a louvar a Deus. Ele se gloria na graça de Cristo, e diz: «Transbordou, porém, a graça de nosso Senhor com a fé e o amor que há em Cristo Jesus».



Assim é que você deve encarar o seu passado. Portanto, se você relembrar o seu passado e se sentir deprimido, quer dizer que você está dando ouvidos ao diabo. Mas se você olhar para o passado e disser: «Infelizmente, é verdade que o deus deste mundo me mantinha cego, mas, graças a Deus, a Sua graça foi mais abundante, Ele foi mais que suficiente, e o Seu amor e misericórdia veio sobre mim de tal maneira que tudo foi e está perdoado; sou nova criatura», então está tudo bem.


Esse é o modo certo de considerar o passado; e se não é assim que fazemos, estou quase tentado a dizer que merecemos permanecer em profunda tristeza. Por que crer no diabo, ao invés de crer em Deus? Levante-se e trate de reconhecer a verdade sobre si mesmo, que o passado já era, que você é um com Cristo, que todos os seus pecados foram apagados de uma vez e para sempre. Oh! lembremos que duvidar da Palavra de Deus é pecado, é pecado permitir que o passado, que já recebeu o devido tratamento de Deus, nos roube nossa alegria e nossos serviços úteis, no presente e no futuro.

18 -O Livro da Vida do Cordeiro – M. Lloyd-Jones


Não anuncie aos outros, de modo nenhum e de forma nenhuma, o que você faz. . . Nem mesmo o anuncie a você próprio. . . Observe que nosso Senhor não se detém ao dizer que você não deve tocar trombeta diante de você e proclamá-lo ao mundo; você nem o deve anunciar a você mesmo . . . havendo-o feito secretamente, não vá pegar o seu livrinho e anotar: «Bem, eu fiz isto. É claro que não contei a mais ninguém o que fiz» . . . Na verdade, eis o que disse nosso Senhor: «Não mantenha contabilidade nenhuma desse tipo; não escriture nenhum livro-razão espiritual; não mantenha contas de lucros e perdas em sua vida; não escreva um diário, nesse sentido; esqueça-o. ! .”

Qual é o resultado disso tudo? É glorioso. É assim que o Senhor o explica. Diz Ele: «Você não precisa manter a contabilidade. Deus o faz. Ele vê todas as coisas e registra tudo. E você sabe o que Ele vai fazer? Vai recompensá-lo publicamente» ... Se nós simplesmente esquecermos a coisa toda e fizermos tudo para agrada-10, veremos que Deus tem uma contabilidade. Nada que tenhamos feito será esquecido; nosso ato mais diminuto será lembrado. Você se recorda do que Ele disse, em Mateus 25? «. . .estava. . . preso e fostes ver-me. . .» E eles perguntarão: «Quando foi que fizemos tudo isso? Não nos consta que o tenhamos feito». «Certa¬mente que sim», Ele responderá; «está no Livro».

Ele guarda os livros. Devemos deixar com Ele a contabilidade. «Você sabe», diz Ele, «você fez tudo secretamente; mas Eu o recompensarei abertamente. Pode ser que Eu não o recompense abertamente neste mundo, mas, tão certo como você vive, Eu o recompensarei publicamente naquele Grande Dia. . . em que será aberto o grande Livro. . . e Eu lhe direi: Muito bem, servo bom e fiel. . . entra no gozo do teu Senhor»

19 - Uma luz no crepúsculo – Martyn Lloyd-Jones (1899-1981)



Nada há tão desesperador no mundo como a bancarrota da perspectiva não-cristã da vida. Charles Darwin no fim da vida confessou que o resultado de haver concentrado sua atenção em um único aspecto da vida foi que perdeu a capacidade de apreciar a poesia e a música, e, em grande medida, perdeu até a capacidade de apreciar a natureza. Pobre Darwin. . . O fim de H. G. Wells foi bem parecido. Ele, que havia dado tanto valor à mente e ao entendimento humano, e que havia ridicularizado o cristianismo com suas doutrinas do pecado e da salvação, no final da vida confessou-se frustrado e confuso.



O próprio título de seu último livro — Mind at the End of iís Tether (Mente Sem Mais Recursos) — dá eloqüente testemunho em prol do ensino bíblico sobre a tragédia que caracteriza o fim dos ímpios. Ou considere a frase da autobiografia de um racionalista como o dr. Marret, que foi diretor de uma faculdade, em Oxford... «Para mim, porém, a guerra pôs repentino fim ao longo verão de minha vida. Daí em diante, não tenho mais nada para ver pela frente senão o frio outono e o inverno mais frio ainda, e, contudo, devo esforçar-me de algum modo para não perder o ânimo».



A morte dos ímpios é coisa terrível. Leia as biografias deles. Passam os seus dias de esplendor. Não têm diante de si nenhuma expectativa bem-aventurada, e, à semelhança do que ocorreu ao falecido Lord Simon, procuram alento revivendo seus idos sucessos e triunfos.



No Livro de Provérbios lemos que «o caminho dos perversos é como a escuridão». «Mas a vereda dos justos é como a luz da aurora que vai brilhando mais e mais até ser dia perfeito» (Provérbios 4.19,18). Que glória! . . .ouça então ao apóstolo "Paulo (2 Timóteo 4.6-8).



Uma das mais soberbas apologias feitas por João Wesley, dos seus primeiros metodistas, era esta: «Nossa gente morre bem» ... A Bíblia, em toda parte, nos exorta a que ponderemos sobre o nosso «derradeiro fim» . . . Renda-se a Cristo e confie nEle e no Seu poder. . . E o fim será glorioso.


20 - Todo Conselho de Deus – Martyn Lloyd-Jones


Isto significa que tomamos todo o corpo de doutrina cristã; não nos concentramos em partes particulares dela. Não é de admirar que a Igreja Cristã esteja como está, formando movimentos para salientar unicamente uma doutrina. Essa é uma parte crucial de todo o nosso problema atual. Temos que assumir a doutrina completa. O apóstolo Paulo se refere a isto em suas últimas palavras aos presbíteros desta igreja de Éfeso, palavras registradas em Atos, capítulo 20. Ele estava viajando para Jerusalém, e os presbíteros de Éfeso desceram a Mileto para encontrar-se com ele. O apóstolo teve a alegria e a satisfação de poder dizer que lhes tinha anunciado "todo o conselho de Deus". Não havia nada que ele deixasse sem dizer. Semelhantemente, não há parte alguma da doutrina cristã que eu e vocês possamos dar-nos ao luxo de ignorar. Devemos estudar todas as partes das Escrituras; e é bom ler a B íblia inteira uma vez por ano. Não deixem nada fora, leiam a história, leiam tudo. Tomem cada parte e parcela da doutrina. Não parem na evangelização, não parem na justifi¬cação, não se detenham na santificação; estudem a glorificação, estudem a profecia, tomem toda a doutrina. Nada causa tanta fraqueza e tanto fracasso na Igreja Cristã como o nosso erro de não nos revestirmos de "toda a armadura de Deus".

Também é necessário acentuar que todas as partes do seu ser devem estar envolvidas nesta vida cristã. A sua mente, por exemplo, precisado "capacete da salvação". Nunca negligenciem a sua mente nestas questões. A idéia de que o cristianismo é apenas uma forma de emocionalismo ou de sentimentalismo - como o mundo está constante¬mente sugerindo-é totalmente errada; e se nós estamos dando ao mundo ocasião de pensar e falar assim de nós, somos muito pobres soldados do exército cristão.

Mas não se detenham na mente. O coração precisa de proteção de igual maneira. Certas pessoas são muito cuidadosas na proteção da mente; são versadas em teologia, erros e heresias; porém se descuidam do coração, e o resultado é que muitas vezes são feridas e derrotadas. Caem à beira do caminho por negligenciarem este órgão vital.

Igualmente com relação à vontade. O apóstolo Paulo, escrevendo a Timóteo, fala em conservar "a fé, a boa consciência, rejeitando a qual alguns fizeram naufrágio nafé"(l Timóteo 1:19). Eles estavam dando atenção ao aspecto intelectual da fé, todavia não estavam "mantendo boa . nsciência"; estavam negligenciando a vontade e o aspecto prático. O resultado, diz Paulo, foi que eles "fizeram naufrágio" em sua fé e em suas vidas. "Tomai toda a armadura de Deus", todas as suas partes e cada uma delas, a fim de que cada parte da personalidade esteja coberta e protegida. Não há nada que nos cause tanto regozijo na v ida cristã como o fato de que ela afeta o homem completo. Nenhuma outra coisa faz isso. Vocês podem ter sociedades intelectuais no mundo; entretanto, elas são frias e sem coração. Existem interesses emocionais, sentimentais no mundo; mas não têm nada para a mente. Outros se concentram na ética, porém não têm entendimento espiritual, e não têm conforto e consolação para oferecer-nos. No entanto, o ensino bíblico toma o homem todo e governa a personalidade inteira. "Toda a armadura de Deus"!

Mas, tendo salientado isso, observem como, ao mesmo tempo, o apóstolo tem todo o cuidado de tratar minuciosamente das diversas peças. "Toda" inclui cada uma das peças. Nunca negligenciem os detalhes. Não deixem parte alguma da alma sem proteção - "Com oração veste cada peça".

Não deixe de pôr toda a armadura; Com oração veste cada peça.

Que perfeito equilíbrio há aqui, como sempre há nas Escrituras, no ensino da Palavra de Deus!

Esse é o equilíbrio que devemos demonstrar neste combate espiritual, nesta guerra cristã. Como o inimigo ainda está à espera e nos vigia com toda a sua astúcia, com todo o seu engenho, com todo o seu poder, há somente um modo de resistir. "Fortalecei-vos no Senhor e na forçado seu poder." Revista-se de toda a armadura que Deus providenciou para você. Vista-a, peça por peça. Não deixe nenhum lugar desprotegido em sua alma, mas faça uso do equipamento completo que Deus, em Sua graça infinita, providenciou para você, no Senhor Jesus Cristo e em Sua grande e gloriosa salvação.


21 - A Malignidade da Humanidade - M. Lloyd-Jones


Olhe para ele e veja o que o mundo é. Tome aqueles que são considerados os grandes homens do mundo, nos quais nos gloriamos e dos quais nos orgulhamos. Coloquem-nos no lugar de Jesus e nada há. Ele os condena a todos. Que criaturas débeis são quando comparadas a ele.

Mas vamos, dê mais uma olhada. Se você quer saber como este mundo é, olhe para o que fizeram a ele. Lá estava o Filho de Deus. Ele deixou o trono dos céus, veio e se humilhou, entregou-se para curar e instruir as pessoas. Ele jamais causou dano a alguém. Ele veio fazer o bem. Mas qual foi a resposta do mundo? Ele foi odiado, perseguido e rejeitado. O mundo preferiu um assassino a ele, crucificando-o e executando-o. E lá na cruz, Jesus expôs o mundo como ele é. Mas os homens inteligentes deste século estão rindo, zombando e ironizando a cruz, estão caçoando do sangue de Cristo, em uma tentativa de ridicularizá-lo. Eles estão apenas repetindo o que os seus arquétipos fizeram no século I. Eis como o mundo sempre o tratou.

Porém, há um outro aspecto. Toda a sua ênfase constituiu-se no exato oposto da ênfase do mundo. Como temos visto, o mundo enfatiza a cobiça da carne, a cobiça dos olhos e a soberba da vida. O que Jesus enfatizou? Ele enfatizou algo a respeito do que o mundo jamais falou, ou seja, a alma.

Jesus disse: "Que aproveita ao homem ganhar o mundo inteiro e perder a sua alma?" (Mc 8.36). E se você fosse o ser humano mais belo que o mundo já conheceu, se estivesse sempre trajado com as roupas mais deslumbrantes, se morasse no mais suntuoso palácio ou possuísse a maior coleção de automóveis e tudo o mais? Se você tivesse o mundo todo, mas perdesse a sua própria alma? Eis o que Jesus afirma sobre o mundo, principalmente lá na cruz: "Que daria um homem em troca de sua alma?" (Marcos 8.37). Por que ele morreu? Jesus morreu pelas almas dos homens, não pelo nosso bem-estar material, não pela reforma deste mundo, mas para salvar nossas almas. "Porque o Filho do homem veio buscar e salvar o perdido" (Lucas 19.10). É a alma que está perdida. Aquilo sobre o que o mundo nada conhece, mas está em você e em todos nós, esta coisa imortal em nós que vai além da morte e do fim. Não, ele expôs a mentira deste mundo, mostrando como ele realmente é. Jesus contou uma parábola sobre o rico e Lázaro. O rico vivia em seu palácio, vestido garbosamente, em trajes maravilhosos, comendo na companhia de seus felizes amigos até fartar-se, enquanto o pobre mendigo permanecia sentado diante do portão, com os cães a lamber suas feridas. Bem, o Senhor disse, com efeito, não julgue superficialmente, este não é o fim da história. Jesus nos descreve a imagem de Lázaro ao lado de Abraão, enquanto o rico padecia em tormento no inferno. E possível ver a diferença entre a mente e a perspectiva do mundo, e a mente e a perspectiva do Pai e do Filho de Deus. Ele expõe o mundo como ele é.

22 - Hipercriticismo – Martyn Lloyd-jones (1899-1981)




Se você quer de fato ajudar outros, e ajudar a livrá-los destas manchas, faltas, fraquezas e imperfeições, primeiramente verifique que o seu próprio espírito e toda a sua atitude têm sido errôneos. Esse espírito de julgamento, hipercriticismo e censura que há em você é como uma trave, contrastada com o minúsculo argueiro que está no olho da outra pessoa . . . «Comece com o seu próprio espírito. . . (é o que diz Jesus), encare-se a si próprio de maneira bem honesta e frontal, e admita a si mesmo a verdade sobre sua pessoa».



Como haveremos de fazê-lo na prática? Leia 1 Coríntios 13 todos os dias; leia diariamente essa asserção feita por nosso Senhor (Mateus 7.1-5). Examine a sua atitude para com seu próximo: encare a verdade sobre si próprio. . . E um processo deveras penoso e entristecedor. Mas. se examinarmos, de maneira honesta e veraz, a nós mesmos, aos nossos juízos e pronunciamentos, estaremos na estrada real que nos levará a extrair a trave de nossos olhos. Então, havendo feito isso, estaremos tão humilhados que ficaremos totalmente livres do espírito de censura e de crítica exagerada.





Que maravilhosa peça de lógica é esta! Quando um homem se vê a si próprio como realmente ele é, nunca mais julga a quem quer que seja de modo errôneo. Todo o tempo de que dispõe o toma para condenar-se a si mesmo, para lavar suas mãos e para tentar purificar-se. . . Você não poderá ser um oculista espiritual enquanto não tiver clara a própria vista.


Assim, quando nos encaramos a nós mesmos e extraímos essa trave, quando nos julgamos e nos condenamos a nós mesmos e ficamos nessa condição humilde, compreensiva, compassiva, generosa e caridosa, então estamos capacitados. . . a «falar a verdade com amor» a outra pessoa, e, por este meio, a ajudá-la. . . Não julgue, a não ser que primeiro se julgue a si mesmo.

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