“Desvia
meus olhos de contemplar a vaidade, e vivifica-me em teu caminho.”
Salmo
119.37
Desvia meus olhos de
contemplar a vaidade. Ele havia orado por seu coração, e alguém poderia pensar
que os olhos pudessem ser influenciados pelo coração, de modo que não houvesse
necessidade de fazê-los objetos de petição especial; nosso autor, porém, está
resolvido a fazer a certeza duplamente infalível. Se os olhos não vêem, talvez
o coração não deseje.
De qualquer forma,
fecha-se uma porta para a tentação quando deixamos de olhar para alguma
quinquilharia bem adornada. O pecado inicialmente penetrou a mente humana
através dos olhos, e estes continuam ainda sendo a porta favorita para as inconvenientes
seduções de Satanás; daí a necessidade de uma dupla vigilância sobre esse
portal.
A oração não visa tanto
a que os olhos sejam fechados, mas que sejam 'desviados'; pois nos é indispensável
que eles estejam abertos, porém direcionados para os objetos certos. É possível
que você esteja neste exato momento fitando alguma tolice; se esse é o caso,
você preciso desviar os olhos; e se estiver contemplando as coisas celestiais,
será sábio rogar que seus olhos sejam guardados da vaidade. Por que olhamos
para a vaidade? — elas se desvanecem como o vapor. Por que não contemplamos as
coisas eternas? O pecado é vaidade; o lucro injusto é vaidade; a
auto-apreciação exagerada é vaidade; aliás, tudo o que não procede de Deus
pertence ao mesmo catálogo.
De tudo isso temos que
nos desviar. É uma prova do senso de fraqueza sentido pelo salmista, bem como
de sua inteira dependência de Deus, por isso ele mesmo pede que seus olhos
fossem voltados para Deus; sua intenção não é ser passivo, mas revelar seu
total desamparo quando longe da graça de Deus. Temendo que esquecesse de si
próprio e viesse a fitar demoradamente algo que fosse proibido, ele implora que
o Senhor imediatamente fizesse seus olhos retrocederem, livrando-o de tão
perigosa parlamentação com a iniqüidade. Se formos protegidos da atenção dada à
vaidade, seremos também preservados de amar a iniqüidade.
E vivifica-me em teu
caminho. Dá-me tanta vida, que a mortífera vaidade não tenha poder algum sobre
mim. Capacita-me a transitar tão rapidamente na estrada para o céu, que não
tenha como deter-me demoradamente à vista da vaidade que ali fascina. A oração
indica nossa extrema necessidade - mais vida em nossa obediência. Revela o
poder preservador da vida enriquecida para guardar-nos dos males que nos
cercam, e também nos diz onde essa vida mais rica deve ser encontrada, a saber,
somente no Senhor. A vitalidade é a cura da vaidade.
Quando o coração transborda
de graça, os olhos são purificados da impureza. Em contrapartida, se nos
enchermos de vida no tocante às coisas de Deus, teremos como proteger-nos do pecado
e da futilidade; do contrário, nossos olhos prontamente cativarão a mente e,
como Sansão, que pôde matar seus milhares, venceremos a luxúria que entra pelos
umbrais dos olhos.
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