T. Austin-Sparks
Publicação: 01/05/2012
Se o Senhor nos permitir, vamos meditar sobre o corpo de
Cristo.
Quando desejamos ter uma maior revelação deste ‘mistério’,
instintivamente retornamos à epístola aos Efésios. Nesta carta observamos
primeiro, o fato preliminar de que a igreja é chamada «o corpo de Cristo», é «a
igreja que é o seu corpo». Isso distingue, nesta carta, a igreja de outras
designações que encontramos em outros lugares, como o templo, a casa de Deus e
outras, mas nesta carta é particularmente o corpo de Cristo.
Agora, a palavra que parece predominar nesta carta com
respeito a essa designação é a palavra «juntos». É impressionante observar quão
frequentemente aparece essa palavra. Aqui nos diz: «sois juntamente» nele. Isso
não significa apenas que a nossa reunião foi individualmente com o Senhor Jesus
em sua ressurreição, mas também fomos postos corporativamente nele; não só com
ele, mas também postos nele corporativamente.
A eterna unidade do Corpo
Na ressurreição do Senhor Jesus toda a igreja foi incluída
juntamente. E então no mesmo verso, 2:6, fomos «ressuscitados juntamente» com
ele. Além disso, no mesmo lugar, diz-se que nós fomos «assentados juntamente»
com ele. Voltando um pouco, em 1.10, fomos «reunidos em um» e então outra vez
em 2.21, «coordenados juntos». No verso 22 somos «juntamente edificados». Esta
palavra «juntos» nos traz para a visão, de uma maneira muito simples, o fato da
natureza corporativa da igreja, o corpo de Cristo.
Desejamos captar a força completa disso tanto quanto for
possível, porque esta carta acentua o fato de que a igreja é um Corpo
corporativo; não que o será um dia quando o trabalho da graça terminar; nem que
esteja meramente na vontade e intenção de Deus; mas que é; isso, apesar do que
vemos hoje na terra; apesar do número cada vez maior de divisões e divergências
na comunhão do povo de Deus na terra; apesar de tudo isso, a igreja segue sendo
ainda um todo corporativo.
É assim, não quanto às pessoas na terra, mas quanto à
natureza essencial da igreja, o corpo de Cristo. Nenhuma divergência que é
fortuito nas relações do povo cristão na terra – pode alterar esse fato. As
diferenças que existem em relação a diversas mentalidades, opções e
preferências, gostos e aversões, aceitações ou rejeições intelectuais – todas
essas diferenças não tocam o último fato de que há um âmbito no qual existe uma
totalidade, uma unicidade, uma corporatividade que não se vê afetada por coisa
alguma do homem em si mesmo, religiosa ou teologicamente.
É obvio, existe um âmbito no qual pode haver uma brecha na
comunhão, que entra no reino do espírito e onde se afeta o espírito. Ali
podemos definitivamente desferir um golpe no corpo de Cristo, mas este corpo é
em última instância um; o qual, é obvio, indica claramente que este é algo mais
que uma coisa terrestre e que é um corpo divino, que não pode ser afetado e
tocado pela terra.
Nós estamos inclinados a aceitar o que vemos, a ser afetados
pelas divisões que estão presentes, e quase nos desesperamos por causa do que
vemos. Quanto antes pusermos tudo isso de lado, tanto melhor, e ainda que haja
cinquenta mil facções terrestres do povo cristão, o corpo de Cristo continua
sendo um. É um corpo que não pode ser dividido; segue sendo um. Esse é o fato
básico ao qual devemos nos voltar, pois é onde começamos.
Esta carta, na qual há a revelação do mistério de Cristo e
dos seus membros, a igreja, declara enfaticamente o fato da natureza
corporativa do Corpo. Não argumenta sobre isso nem o discute; dá-o por
assentado. É obvio, há graus de desfrute e de frutificação disso, mas não há
graus no próprio fato. O fato permanece sólido e estável. Nosso assunto é
entrar no fato de estar assentado e em seu significado; mas o fato de não
entrar no significado completo dele não significa que não existe.
O problema é que nós não entramos no que Deus estabeleceu
desde o começo; quer dizer, temos que saber o que é que faz o corpo ser um, e
esse é o nosso assunto. A unidade existe; a nossa tarefa é captá-la, não
fazê-la. Notemos que a carta aos Efésios ainda está vigente, ainda é aplicável,
segue sendo verdade hoje. Depois de todos estes séculos, quando vemos as
facções e as divisões do povo cristão, a carta de Efésios segue sendo o que foi
no princípio, e representa o corpo como um todo sólido, uma unidade
corporativa.
É só quando nos elevamos nos lugares celestiais, longe dos
terrestres, que começamos a entrar nesse fato e a compreender o que este
significa para Deus, para os lugares celestiais, para o inferno, e para este
mundo. Portanto, para que entremos no fato com tudo o que implica quanto à
vocação e à vida eficaz, temos que valorizar completamente o assunto por causa
da nossa posição em Cristo nos lugares celestiais, e ver exatamente onde fomos
postos espiritualmente; porque, enquanto não chegarmos a reconhecer isso e
entrar em nossa posição divina em Cristo, não poderemos ver, apreciar ou entrar
no significado desta realidade divina da igreja, que é o seu Corpo. Não podemos
ver a igreja do plano terrestre; só podemos vê-la dos lugares celestiais.
Não desejo passar por isso como simplesmente declarando
algo. Desejo que obtenhamos o benefício disso. Você e eu podemos ter um
desacordo, mas isso não faz diferença em nossa relação no Senhor Jesus. O fato
de que possamos discrepar não nos separa como membros do corpo de Cristo. Não,
essa é a nossa perda, é a nossa vergonha, é algo incidental em nossa vida cristã,
é uma interrupção em alguma parte da graça em nós, mas nos recuperaremos disso
se nos rendermos ao mover do Espírito em nós, e nos voltamos para encontrar que
não temos sido meramente reincorporados em Cristo em seu Corpo, mas esse fato
permanece.
Vocês vêem que o princípio de ação é este: há muita divisão
entre os crentes nesta terra, mas não devemos aceitar isso como a última
palavra. Não temos que tomar isso como significado de que alguns estão em
Cristo e outros estão fora de Cristo, de que nós estamos em Cristo e outros não
estão, e de que todo o corpo paralisou e se desintegrou. A única esperança de
gozar do fato é que repudiemos o que parece ser outra coisa, e busquemos do
alto o que, sendo terreno, provoca estas coisas, e descubramos que estamos nos
lugares celestiais, e vivamos em comunhão. Esse é um princípio de ação e
deveríamos reconhecer que é o significado do fato. Temos que aceitar o fato, e
temos que tentar vencer ou negar as outras coisas que se opõem a esse fato
definitivo.
A natureza do corpo de Cristo
Agora passemos a considerar a natureza da vida corporativa
da igreja. Desejamos observar primeiro um ou dois fatos absolutamente
elementares que, no entanto, levam sempre um novo significado a aqueles que
estão espiritualmente vivos para o Senhor. A primeira verdade simples é esta:
que o termo «o corpo de Cristo» é peculiar ao apóstolo Paulo. Outras
designações da igreja se encontram antes dos dias de Paulo e em outras partes
das Escrituras fora dos escritos de Paulo, mas o título, «o corpo de Cristo,»
«o corpo», «a igreja, que é o seu corpo,» é peculiar a Paulo.
A idéia de igreja não era uma nova idéia em sua totalidade.
O povo do Senhor estava familiarizado com esse título. Jesus tinha falado de
sua igreja aos apóstolos. Mas quando se fala dessa igreja como o corpo de
Cristo, é um novo conceito que traz consigo uma nova apresentação da sua
natureza. Fala em forma muito enfática e clara que a igreja, segundo Deus vê,
não é apenas uma comunidade nem uma congregação, não é algo denominacional,
interdenominacional, ou até adenominacional.
Você pode utilizar o termo «igreja» e ter uma mentalidade a
respeito desse termo que conceba a igreja como uma comunidade de pessoas
cristãs, uma sociedade cristã, uma companhia de pessoas na terra com um
interesse mútuo nas coisas de Cristo. Mas esta designação, «corpo», leva as
coisas para um âmbito totalmente diferente. É um corpo. Não um corpo de
pessoas, mas aquele que é representado e ilustrado pelo corpo físico de um
homem. Não significa que a igreja é o corpo físico de Cristo, não me
interpretem mal, mas o corpo físico de um homem é tomado como ilustração do que
é a igreja.
Não há tal coisa como um «Corpo» local
Agora, outro fator na verdade do corpo de Cristo é que não
há coisa tal como um corpo local. Há igrejas locais, ou assembléias locais, mas
não há coisa tal como um corpo local. Isso se torna claro em uma passagem, ao
menos quando está traduzido corretamente –1ª Coríntios 12.27– onde a
desafortunada tradução de algumas das nossas versões é: «Nós somos o corpo de
Cristo». No grego não há o artigo; ali não diz: «Vós sois o corpo de Cristo»,
mas: «Vós sois corpo de Cristo». Isto dá uma aparência inteiramente distinta à
assembléia local. Esta palavra dita a uma companhia local de crentes em Corinto
implica muito claramente que a parte é o todo em sua repercussão, que o corpo
local é o todo em representação, o corpo inteiro é representado por essa
companhia local.
Você não pode cortar muitos membros de uma estrutura física
e pô-los em uma esquina e chamar a isso de corpo. Em qualquer lugar que os
membros de Cristo estejam, na implicação e na representação, ali está todo o
corpo de Cristo, e o pensamento do Senhor é que cada companhia local seja uma
representação viva do corpo inteiro, um microcosmos de todo o corpo de Cristo.
O que é verdade do corpo inteiro tem que ser verdade ali, porque não há uma
companhia isolada, uma assembléia separada; ali está implicitamente o corpo
inteiro. Isso envolve percebendo-se ou não todos os grandes elementos e fatores
do corpo de Cristo.
Isto nos mostra em forma absolutamente clara que nada no
pensamento de Deus é departamental, separado ou independente. No pensamento de
Deus tudo o que tem que ver com a sua igreja é universal, relacionado e
interdependente; a igreja é uma. Significa que vocês estão tão vitalmente
relacionados com outros crentes, que vocês são o corpo de Cristo em implicação,
em efeito, e em natureza. Isto declara o mais enfaticamente possível que a
parte é o todo no pensamento de Deus, e que deve ser considerada como o todo.
Ponhamos desta maneira. Aqui estamos nós, neste lugar, nesta
parte desta cidade, uma companhia do povo do Senhor, e vitalmente relacionada a
esta companhia aqui está o corpo inteiro de Cristo. Não somos uma companhia
separada, uma assembléia independente, estamos em uma união espiritual viva e
funcional com qualquer outro membro do corpo de Cristo inteiro neste mundo em
qualquer lugar que ele possa estar, seja na França, Suíça, Alemanha, Polônia,
América, África, China, a Índia, etc., todos estão aqui na relação do corpo de
Cristo, e todos implicados juntos em nossa reunião.
Temos que ver isto logo e mais plenamente, mas uma vez que
esse princípio espiritual é apreendido, temos os nossos pés no caminho do nosso
ministério universal. Sempre que nos reunimos juntos, mesmo sendo só dois ou
três, o corpo inteiro se reúne conosco nos lugares celestiais e é afetado
juntos por nossa reunião. É tremendo pensar que dois ou três dos filhos de Deus
reunidos em um lugar, qualquer que seja, em contato vivo com a Cabeça, estão
afetando e podem afetar a todo o corpo de Cristo; cada membro, mesmo que sejam
aos milhares, pode afetar o corpo de Cristo.
Fonte - http://www.vida.emcristo.nom.br/seucorpo.htm
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