A distinção entre Paraclito e Parousia.
A.J. Gordon :
Publicação: 26/08/2012
O Paráclito ensina somente as coisas de Cristo; contudo,
ensina mais do que Cristo ensinou: “Tenho ainda muito que vos dizer, mas vós
não podeis suportar agora; quando vier, porém o Espírito da verdade, ele vos
guiará a toda a verdade” (Jo 16.12-13). É como se Ele tivesse dito: “Eu
apresentarei a vocês um pouquinho da minha doutrina; Ele vai apresentá-la por
completo”. Uma razão disso parece clara: o ensino de Jesus durante Seu
ministério terreno aguardava a iluminação de uma luz inexistente - a luz da cruz,
do sepulcro, da ascensão. Por isso, enquanto esses eventos não tivessem
ocorrido, a doutrina cristã se encontrava num estado rudimentar e não podia ser
transmitida por completo aos discípulos de Cristo. Mas não é só isso. A
expressão “porque vou para o Pai” nos dá a chave para entender o que o Senhor
quer dizer. O Espírito Santo “não falará por Si mesmo, mas dirá tudo o que
tiver ouvido e vos anunciará as coisas que hão de vir.” (Jo 16.13).
É maravilhosa essa indicação da convivência mútua da
Divindade, onde se descreve o Paráclito (Paráclito: Aquele designado para
ajudá-los, paracletor é usada na Septuaginda (Jo 16.2) com o sentido de
“Consolador”, o termo parakletos ocorre no Talmude, sigificando “Intérprete”)
ouvindo enquanto Cristo orienta, como se Ele prestasse atenção no céu às
orientações do Pai e do Filho glorificado, ao mesmo tempo que concede direção
invisível ao rebanho na Terra, comunicando-lhe aquilo que ouviu do Pai e do
Filho. E nós deveríamos perguntar reverentemente: não teria Cristo glorificado
mais coisas a nos anunciar do que Ele tinha nos dias da Sua humilhação? Na
expressão “coisas que hão de vir”, não tem Ele segredos para repartir, que até
aqui podem ter sido ocultos nos planos do Pai? Consideremos um simples exemplo
das palavras de Cristo. Quando fala da Sua segunda vinda, Ele diz: “Mas a
respeito daquele dia ou da hora ninguém sabe; nem os anjos no céu, nem o Filho,
senão o Pai (“Nem o Filho”: “É mais do que nem; é nem ainda o Filho” segundo o
comentarista Morrison). É melhor interpretarmos essas palavras com sinceridade,
e em vez de dizer como alguns que Ele não sabia no sentido de não ter permissão
de revelar, admitir que, enquanto se encontrava em Sua humilhação e sob o véu
da encarnação esse segredo estava oculto aos Seus olhos.
Mas não seria insolente de nossa parte argumentar que por
essa razão Ele não conhece agora o dia da Sua vinda? Quantas vezes o texto é
citado como proibição decisiva e final de toda indagação sobre o tempo da volta
do Senhor em glória. Porém aqueles que dessa forma utilizam essas palavras
simplesmente nos aprisionam na infância da Igreja, nos amarram à menoridade dos
dias anteriores ao dia de Pentecostes. Estamos esquecidos que, desde a ascensão
de nosso Senhor para o Pai, Ele nos deu outra revelação, o maravilhoso livro do
Apocalipse, que inicia e se encerra com uma bênção para com aqueles que lêem e
guardam fielmente as palavras dessa profecia? E um dos pontos salientes
característicos desse livro são as predições cronológicas a respeito do tempo
do fim, suas datas místicas, que têm levado muitos pesquisadores sérios da
Palavra de Deus inquirir diligentemente “qual a ocasião ou quais as
circunstâncias oportunas” indicadas pelo Espírito, ao dar-nos essas indicações
de direção no deserto.
Sendo assim, devemos perguntar: se não somos irreverentes ao
concluir, juntamente com muitos expositores sérios, que nosso Salvador quis
dizer exatamente o que disse, ao declarar que Ele não conhecia “ainda” o dia da
Sua volta, será que seremos insolentes ao tomar literalmente as palavras
iniciais do Apocalipse? “Revelação de Jesus Cristo, que Deus lhe deu para
mostrar aos Seus servos as coisas que em breve devem acontecer”. Foi por causa
da Sua ida para junto do Pai que maiores obras e maiores riquezas se aplicariam
à Igreja após o dia de Pentecostes. Por que não atribuir à mesma causa também a
revelação mais completa do futuro e a entrada numa verdade mais completa com
respeito à bendita esperança da Igreja? Em outras palavras, se pensamos em
Cristo ingressando em revelação mais ampla ao retornar à glória que Ele tinha
com o Pai, não devemos também pensar numa comunicação mais ampla da verdade,
por meio do bendito Paráclito?
Porventura não aprendemos alguma coisa da natureza e dos
ofícios do Espírito Santo com o estudo desse Seu novo nome e de tudo que o
Senhor diz no maravilhoso discurso em que O apresenta aos Seus discípulos? No
mínimo o estudo deveria nos capacitar a distinguir dois termos inspirados, que
têm sido confundidos sem necessidade por não poucos escritores, ou seja: as
palavras Paráclito e Parousia. Esta última palavra, que constantemente ocorre
nas Escrituras para descrever a segunda vinda do nosso Senhor, tem sido usada
em várias obras eruditas para designar a vinda do Espírito Santo; e uma vez que
Cristo veio na pessoa do Espírito, tem-se argumentado que a prometida vinda do
Redentor em glória já ocorreu. Mas isso é confundir termos cujo uso na Palavra
os distingue claramente um do outro. Veja a diferença entre eles: o Paráclito
Cristo vem espiritualmente e de forma invisível; na Parousia Ele vem de forma
física e em glória.
A vinda do Paráclito na verdade está condicionada à ausência
física do Salvador de entre o Seu povo: “... se eu não for, o Consolador não
virá para vós outros” (Jo 16.7). Por outro lado, a Parousia só se concretiza
com o Seu retorno físico para o Seu povo: “Pois quem é a nossa esperança, ou
alegria, ou coroa em que exultamos, na presença de nosso Senhor Jesus em Sua
vinda?” (1 Ts 2.19). O Paráclito toma conta da Igreja nos dias da Sua humilhação;
a Parousia introduz a Igreja no dia da Sua glória. No Paráclito Cristo veio
habitar com a Igreja na Terra: “Não vos deixarei órfãos, voltarei para vós
outros” (Jo 14.18). Na Parousia Cristo virá para levar a Igreja para habitar
consigo na glória: “... voltarei e vos receberei para Mim mesmo, para que, onde
eu estou, estejais vós também” (Jo 14.3). Cristo orou em favor da Sua Igreja
desolada, para que viesse o Paráclito: “E Eu rogarei ao Pai, e Ele vos dará
outro Consolador...” (Jo 14.16). Agora o Espírito Santo ora com a Igreja
peregrina para que se apresse a Parousia: “O Espírito e a noiva dizem: Vem!”
(Ap 22.17). Essas duas palavras só podem ser compreendidas nessas referências
mútuas. Cristo, que deu o novo nome ao Espírito Santo, pode nos explicar melhor
esse nome ao tornar-Se conhecido a nós. Que esse nome seja para nós um símbolo
tão real da Sua presença que, embora estrangeiros e peregrinos na Terra,
possamos andar sempre na “paraclesis do Espírito Santo” (At 9.31).
Extraído do livro o Ministério do Espírito, Editora dos
Clássicos
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