The trasury of David
INTRODUÇÃO
Seria inútil investigar em que período particular este aprazível poema foi composto, pois nada há em seu título ou temática que possa nos orientar neste sentido. O subtítulo, "Ao mestre de canto. Salmo de Davi," nos informa que Davi o escreveu e o entregou ao mestre de canto no santuário, para uso dos adoradores reunidos. Na juventude, enquanto cuidava do rebanho de seu pai, o salmista tinha-se dedicado ao estudo dos dois grandes livros de Deus: a natureza e as Escrituras. E ele tinha-se aprofundado no espírito destes dois únicos volumes de sua biblioteca a tal ponto que era capaz de compará-los e contrastá-los num estudo disciplinado, engrandecendo a excelência de seu Autor que se vê em ambas as obras. Como são tolos e mal intencionados aqueles que, em vez de aceitar estes dois tomos sagrados e ter prazer em contemplar as mesmas mãos divinas que operaram neles, desperdiçam toda a inteligência no empenho de achar discrepâncias e contradições. Podemos assegurar tranqüilamente que os "Vestígios da Criação" jamais irão contradizer o Gênesis, nem será descoberto um "Cosmos" correto diferente da narrativa de Moisés. Sábio é aquele que lê tanto o livro sem palavras como o livro da Palavra como dois volumes da mesma obra e conclui: "Meu Pai escreveu tanto este quanto aquele."
DIVISÃO
Este salmo divide-se muito claramente em três partes, bem descritas pelos tradutores de nossa versão sob o título: "A Excelência da Criação e da Palavra de Deus." A criação anuncia a glória de Deus, versículos 1-6; a Palavra de Deus anuncia sua graça, versículos 7-11, e Davi ora pedindo graça, versículos 12-14. Deste modo, o louvor e a oração mesclam-se e aquele que aqui exalta a obra de Deus no mundo também suplica por uma obra da graça em si mesmo.
O TEXTO
1. Os céus proclamam a glória de Deus, eo firmamento
anuncia as obras das suas mãos.
anuncia as obras das suas mãos.
2. Um dia discursa a outro dia, e uma noite revela conhecimento a outra noite.
3. Não há linguagem, nem há palavras, e deles ouve nenhum som;
4. no entanto, por toda a terra se faz ouvir a sua voz, e as suas palavras, até aos confins do mundo. Aí, pôs uma tenda para o sol,
5. o qual, como noivo que sai dos seus aposentos, se regozija como herói, a percorrer o seu caminho.
6. Principia numa extremidade dos céus, e até à outra vai o seu percurso; e nada refoge ao seu calor.
COMENTÁRIO
1. Os céus proclamam a glória de Deus. O
livro da natureza contém três páginas: o céu, a terra e o mar, das
quais o céu é a primeira e a mais gloriosa, e por meio dele podemos ver
as belezas das outras duas páginas. Qualquer livro sem a primeira página
é imperfeito, especialmente a Bíblia Natural, uma vez que suas
primeiras páginas, o sol, a lua e as estrelas, constituem as chaves sem
as quais o texto subseqüente seria obscuro e indiscernível. O homem anda
ereto evidentemente para esquadrinhar os céus, e quem começa a leitura
da criação através das estrelas o faz no lugar certo.
Os céus está no plural devido a sua diversidade, que compreende a chuva e as nuvens de incontáveis
formas, o ar com seus ventos e calmadas, o sol com toda a glória do dia
e o céu estrelado com todas as maravilhas da noite. O que o Céu dos
céus deve ser escapa ao coração do homem, mas o mais importante de tudo é
que lá todas as coisas falam da glória de Deus. Qualquer parte da
criação tem mais lições a dar do que a mente humana jamais poderá
aprender, mas o reino celestial é particularmente rico em ensino
espiritual. Os céus proclamam, ou estão proclamando, pois a
continuidade de seu testemunho é o que os verbos querem dar a entender; a
todo momento a existência, o poder, a sabedoria e a bondade de Deus
são alardeados pelos arautos celestiais que resplandecem sobre nós.
Aquele que pensa em fazer conjecturas a respeito da sublimidade divina
olhe primeiro atentamente para o alto, para a abóbada celeste. Aquele
que deseja imaginar como é o infinito, espreite primeiro a vastidão
ilimitada do universo. Aquele que deseja conhecer a sabedoria divina,
considere o equilíbrio que há no mundo. Aquele que quer conhecer a
fidelidade divina, trace a regularidade dos movimentos planetários; e
quem gostaria de obter alguma idéia do poder, da grandeza e da
majestade divinas, avalie primeiro as forças de atração, a magnitude dos
astros e o brilho de todo o conjunto celeste. Não é meramente uma
glória que os céus proclamam, mas a glória de Deus, pois eles nos
apresentam argumentos em prol de um Criador consciente, inteligente,
que tudo planeja, controla e preside, que ninguém pode rebater de modo a
convencer qualquer pessoa que seja sem preconceito. O testemunho dos
céus não é um simples indício, mas uma declaração inconfundível e clara,
do tipo permanente e inalterável. Apesar disso tudo, que proveito há
numa declaração em alto e bom som dirigida a um surdo, ou a mais
evidente demonstração feita para um cego no sentido espiritual? O
Espírito Santo de Deus precisa iluminar-nos ou nem todos os sóis da Via
Láctea poderão fazê-lo.
O firmamento anuncia as obras das suas mãos. O
infinito está repleto das obras feitas pelas mãos habilidosas e
criativas do Senhor; mãos atribuídas ao supremo Espírito criador, que
prova seu cuidado e ação primorosa, indo ao encontro da pequena
capacidade de compreensão dos mortais.
É
humilhante pensar que até mesmo as mentes mais devotadas e elevadas,
quando querem expressar seus pensamentos mais sublimes sobre Deus,
precisam usar de palavras e metáforas extraídas da terra. Somos todos
crianças e temos de confessar: "Penso como criança, falo como criança." Deus está na vastidão acima de nós; sua bandeira estelar mostra que o Rei encontra-se
em casa e levanta seu escudo para que os ateus vejam como ele
menospreza suas acusações. Aquele que após olhar para o firmamento se
apresenta como um ateu, está ao mesmo tempo se declarando um idiota e
mentiroso. É de estranhar que alguns dentre os que amam a Deus ainda
temem estudar a natureza como o livro que revela o caráter de Deus; a
falsa espiritualidade de alguns crentes, muito celestiais para estudar os céus,
tem apoiado a atitude soberba dos infiéis que dizem que a natureza
contradiz a revelação. Os homens verdadeiramente sábios acompanham com
um fervor santo os percursos de Jeová tanto na criação quanto na graça;
somente os insensatos têm medo de que o estudo honesto deste possa lesar
a fé naquele. Bem disse o Dr. M'Cosh: "Muitas vezes fiquei triste com as tentativas feitas para contrapor as obras de Deus à Palavra de Deus, incitando, propagando e dando ênfase a sentimentos de inveja que servem apenas para separar partes que deveriam estar em perfeita harmonia. Em especial, sempre lamentei os esforços feitos para
depreciar a natureza para exaltar a revelação; isso me parece que é
degradar uma parte das obras de Deus na esperança de exaltar e
recomendar a outra. Não deixemos que a ciência e a religião sejam como cidadelas oponentes, desafiando uma a outra, com suas tropas a brandir as armas em atitude hostil. Elas possuem muitos adversários em comum, como ignorância e preconceito,
luxúria e vício, sob todas as formas, e deveriam admitir que
desperdiçam força nessa guerra vã. A ciência tem um fundamento e a religião também; pois que integrem seus fundamentos para
que as bases sejam mais amplas, e tornem-se duas seções de uma mesma
construção erigida para a glória de Deus. Que uma seja o pátio externo,
para.o qual todos olham e admiram e adoram, e a outra seja o interno,
onde aqueles que têm fé se ajoelham e oram e louvam. Que uma seja o
santuário onde os eruditos apresentem seus incensos mais caros em oferta
a Deus, e a outra o Santo dos santos separado por um véu agora partido
ao meio, e no qual, num trono da graça aspergido com sangue, servimos o amor de um coração reconciliado, e ouvimos os oráculos do Deus vivo."
2. Um dia discursa a outro dia, e uma noite revela
conhecimento a outra noite. Como se um dia desse seguimento à história no ponto em que o outro a deixou, e cada noite repassasse o conto assombroso para a próxima. O original dá a idéia de fluir ou transbordar palavras, como se os dias e as noites se comparassem a fontes que jorram cada vez mais o louvor de Jeová. Ah, beber da fonte celestial e aprender a propagar a glória de Deus! As testemunhas acima não podem ser caladas ou silenciadas; do seu lugar privilegiado, elas anunciam constantemente o conhecimento de Deus sem se importar com o julgamento dos homens. Mesmo as alterações do dia para a noite são silenciosamente eloqüentes, e a luz e a sombra revelam igualmente o Invisível. Vamos permitir que nossas vicissitudes circunstanciais façam o mesmo, e enquanto bendizemos ao Deus dos nossos dias de alegria, vamos também exaltar Aquele que nos
inspira "salmos na noite".
conhecimento a outra noite. Como se um dia desse seguimento à história no ponto em que o outro a deixou, e cada noite repassasse o conto assombroso para a próxima. O original dá a idéia de fluir ou transbordar palavras, como se os dias e as noites se comparassem a fontes que jorram cada vez mais o louvor de Jeová. Ah, beber da fonte celestial e aprender a propagar a glória de Deus! As testemunhas acima não podem ser caladas ou silenciadas; do seu lugar privilegiado, elas anunciam constantemente o conhecimento de Deus sem se importar com o julgamento dos homens. Mesmo as alterações do dia para a noite são silenciosamente eloqüentes, e a luz e a sombra revelam igualmente o Invisível. Vamos permitir que nossas vicissitudes circunstanciais façam o mesmo, e enquanto bendizemos ao Deus dos nossos dias de alegria, vamos também exaltar Aquele que nos
inspira "salmos na noite".
Seria bom que todo ser humano aprendesse a lição
do dia e da noite. Ela deveria permear nossos pensamentos diurnos e
noturnos para nos fazer lembrar o fluxo do tempo, o caráter passageiro das coisas terrenas, a brevidade tanto da alegria como da
tristeza, a preciosidade da vida, nossa incapacidade total de recuperar
as horas passadas e a irresistível aproximação da eternidade. O dia
nos remete ao trabalho, a noite nos lembra os preparativos
para nossa morada final; o dia nos move a trabalhar para Deus, a noite
nos convida a descansar nele; o dia nos impele a buscar a luz eterna, e a noite nos adverte a escapar das trevas eternas.
3. Não há linguagem, nem há palavras, e deles não se ouve nenhum som. Todo homem
pode ouvir as vozes dos astros. Muitas são as línguas dos terrestres,
mas para os celestiais há senão uma, e ela pode ser compreendida por
qualquer mente de boa vontade. O pagão é indesculpável se não percebe as
coisas invisíveis de Deus presentes em suas obras. Sol, lua e estrelas são
pregadores itinerantes, apóstolos em suas trajetórias a confirmar
aqueles que atentam para Deus, e juizes a condenar os que adoram ídolos.
Alguns manuscritos têm uma pequena variante, mais literal e com menos repetições: "Sem linguagem, sem palavras, sua voz não é ouvida"; ou seja, seu ensino não se destina aos ouvidos, nem
é propagado em sons articulados; é ilustrado e dirigido aos olhos e ao
coração; não desperta o sentido que produz a fé, pois esta vem pelo ouvir. Jesus Cristo é chamado de a Palavra, pois ele é uma demonstração muito mais clara da Divindade do que os céus jamais poderiam dar; afinal de contas, eles são simples instrutores; nem a estrela, nem o sol podem produzir uma palavra, mas Jesus é a imagem expressa da pessoa de Jeová e seu nome é a Palavra de Deus.
4. Por toda a terra se faz ouvir a sua voz, e as suas
palavras até aos confins do mundo. Embora os corpos celestes se movimentem num silêncio solene, aos ouvidos da razão eles transmitem ensinamentos preciosos. Eles não emitem palavras literais, mas a sua instrução é clara o suficiente para ser descrita.
Horne comenta que a frase empregada indica uma linguagem de sinais, e que os céus falam através de seus atos e operações impressionantes. As palavras da natureza são como de um surdo mudo; a graça nos fala plenamente do Pai. Através do seu curso, os astros revelam a dimensão de seu domínio, o qual, juntamente com seu testemunho, ultrapassa as extremidades da terra em que habitamos. Nenhuma pessoa abaixo da abóboda celeste vive além dos limites da diocese atendida por esses pregadores no palácio de Deus; é fácil escapar das luzes de ministros que como estrelas estão na mão direita do Filho do Homem; mas até esses fugitivos, se sua consciência ainda não estiver cauterizada, encontrarão um profeta Nata que os acuse, um Jonas que os advirta e um Elias que os atemorize nas silenciosas estrelas da noite. Sobre as almas que conhecem a graça as vozes dos céus exercem ainda influência maior; elas sentem influência das Plêiades e são trazidas para Deus Pai pelos laços brilhantes do Órion.
palavras até aos confins do mundo. Embora os corpos celestes se movimentem num silêncio solene, aos ouvidos da razão eles transmitem ensinamentos preciosos. Eles não emitem palavras literais, mas a sua instrução é clara o suficiente para ser descrita.
Horne comenta que a frase empregada indica uma linguagem de sinais, e que os céus falam através de seus atos e operações impressionantes. As palavras da natureza são como de um surdo mudo; a graça nos fala plenamente do Pai. Através do seu curso, os astros revelam a dimensão de seu domínio, o qual, juntamente com seu testemunho, ultrapassa as extremidades da terra em que habitamos. Nenhuma pessoa abaixo da abóboda celeste vive além dos limites da diocese atendida por esses pregadores no palácio de Deus; é fácil escapar das luzes de ministros que como estrelas estão na mão direita do Filho do Homem; mas até esses fugitivos, se sua consciência ainda não estiver cauterizada, encontrarão um profeta Nata que os acuse, um Jonas que os advirta e um Elias que os atemorize nas silenciosas estrelas da noite. Sobre as almas que conhecem a graça as vozes dos céus exercem ainda influência maior; elas sentem influência das Plêiades e são trazidas para Deus Pai pelos laços brilhantes do Órion.
Aí, pôs uma tenda para o sol No meio do céu o sol se acampa e marcha como um monarca poderoso em seu caminho glorioso.
Sem residência fixa, o sol é comparável a um viajante que arma e
desarma a tenda, que em breve será recolhida e como um pergaminho. Tal
qual um pavilhão real no centro da tropa, o rei sol se mostra entre seus súditos estelares.
5. O qual, como noivo que sai dos seus aposentos...
Um noivo suntuosamente vestido, com faces irradiando uma alegria que contagia todos ao redor — assim, porém com ainda mais destaque, é o sol nascente. Se regozija como herói, a percorrer o seu caminho. Como um campeão se alegra ao lançar-se numa corrida, assim apressa-se o sol com uma regularidade inigualável e uma rapidez incansável em sua órbita. Ele, porém, o faz como que brincando; não há sinais de esforço, desânimo ou exaustão. Nenhuma outra criatura transmite tamanha alegria à terra como seu noivo, o sol; e nenhuma, nem o cavalo nem a águia, pode ser comparada à ligeireza desse campeão celeste. Toda a sua glória, porém, é a glória de Deus; até o sol brilha sob a luz emprestada do Grande Pai das Luzes.
Um noivo suntuosamente vestido, com faces irradiando uma alegria que contagia todos ao redor — assim, porém com ainda mais destaque, é o sol nascente. Se regozija como herói, a percorrer o seu caminho. Como um campeão se alegra ao lançar-se numa corrida, assim apressa-se o sol com uma regularidade inigualável e uma rapidez incansável em sua órbita. Ele, porém, o faz como que brincando; não há sinais de esforço, desânimo ou exaustão. Nenhuma outra criatura transmite tamanha alegria à terra como seu noivo, o sol; e nenhuma, nem o cavalo nem a águia, pode ser comparada à ligeireza desse campeão celeste. Toda a sua glória, porém, é a glória de Deus; até o sol brilha sob a luz emprestada do Grande Pai das Luzes.
Ó sol, do grande mundo brilho e coração, vê que ele é maior, dá-lhe louvor tanto ao subir e no alto da exaltação como ao se pôr.
6. Principia numa extremidade dos céus, e até a outra vai o seu percurso... O
sol fornece luz até às fronteiras do céu, transpondo o firmamento num
movimento contínuo, e a ninguém que esteja dentro de seu raio de ação
ele nega luz. E nada refoge ao seu calor. Para cima, para baixo e
para os lados o calor do sol exerce a sua influência. As entranhas da
terra estão cheias de material antigo produzido pelos raios solares, e
até as cavernas mais profundas experimentam esse poder. Em lugares
impenetráveis para a luz o calor e outras influências sutis encontram
um caminho.
Sem dúvida,
há um paralelo traçado intencionalmente entre o céu da graça e o céu da
natureza. O caminho da graça divina é sublime e amplo, e cheio da sua
glória; em todos os aspectos deve ser admirado e estudado com
diligência; tantos suas luzes como suas sombras trazem instrução; ele é
proclamado, até certo ponto, a todas as pessoas, e no devido tempo será
completamente anunciado até aos confins da terra. Jesus, como um sol,
ocupa o centro da revelação, encarnando entre os homens com todo o seu
brilho; jubilando-se, como o Noivo da sua igreja, ao revelar-se aos
homens; e, como um campeão, ao conquistar glória para si. Ele faz
um percurso de misericórdia, abençoando os cantos mais remotos da
terra; e não há almas sedentas, por mais degeneradas e depravadas que
sejam, a quem são recusados o calor confortável
e o benefício do seu amor — até a morte há de sentir o poder da sua
presença e desistir dos corpos dos santos, e esta terra caída há de ser
restaurada à sua glória primitiva.
7.A lei do Senhor é perfeita e restaura a alma; o testemunho do Senhor é fiel e dá sabedoria aos símplices.
8.Os preceitos do Senhor são retos e alegram o coração; o mandamento do Senhor é puro e ilumina os olhos.
9.O temor do Senhor é límpido e permanece para sempre; os juízos do Senhor são verdadeiros e todos igualmente justos.
10.São mais desejáveis do que ouro, mais do que muito ouro depurado; e são mais doces do que o mel e o destilar dos favos.
11.Além disso, por eles se admoesta o teu servo; em os guardar, há grande recompensa.
Nos três
versículos seguintes temos um breve porém instrutivo conjunto de seis
títulos que descrevem a Palavra, seis qualidades características e seis
efeitos divinos. Os nomes, a natureza e os efeitos da Bíblia ficam bem
estabelecidos.
7. A lei do Senhor é perfeita: A
referência não é somente à lei de Moisés mas à doutrina de Deus, a
todo o conjunto de instruções da Sagrada Escritura. A doutrina revelada
por Deus é declarada perfeita, e observe-se que Davi tinha apenas uma
pequena parte das Escrituras. Se um fragmento da porção mais obscura e
histórica já é perfeito, o que dizer do volume inteiro? Muito mais do
que perfeito é o livro que contém a demonstração mais evidente do amor
divino, e nos abre a visão da graça redentora. O evangelho é um plano
completo ou lei da salvação pela graça; ele apresenta ao pecador tudo o
que este precisa para suprir suas terríveis necessidades. Na Palavra de
Deus e no plano da graça não há redundâncias nem omissões; por que,
então, pintar os lírios que já têm sua cor e dourar o ouro que já foi
refinado? O evangelho é perfeito em todas as suas partes, e perfeito
como um todo: é crime acrescentar, traição alterar e perfídia retirar
algo dele.
E restaura a alma. Ela faz o homem retornar ou ser recuperado para o lugar de onde o pecado o expulsara. O efeito prático
da Palavra de Deus é fazer o homem voltar-se para si mesmo, para Deus e
para a santidade, e a volta ou conversão não é apenas exterior; a alma é
tocada e renovada. O maior agente da conversão do pecador é a Palavra
de Deus, e quanto mais próximos nos conservamos dela em nosso
ministério, tanto maior a possibilidade de sucesso. É a palavra de Deus,
e não a interpretação humana dela, que exerce poder sobre as almas. A
lei e o evangelho agem diferentemente, mas o resultado é o mesmo, pois pela ação do Espírito de Deus a alma cede e suplica: "Converte-me, e serei convertido." Tente convencer a natureza corrupta do homem com filosofias e raciocínios; ele sorrirá dos seus esforços, mas a Palavra de Deus logo opera uma transformação.
O testemunho do Senhor é fiel. Deus dá testemunho contra o pecado e em favor da retidão; ele testifica a nossa queda e restauração; seu testemunho é claro, decidido e infalível, e deve ser
aceito como correto. O testemunho de Deus em sua Palavra é tão exato
que nele encontramos sólido conforto, tanto para o presente como para a
eternidade, e nenhum golpe contra ele desferido, por mais violento e
sutil que seja, poderá diminuir sua força. Que bênção saber que num mundo de incertezas temos algo tão seguro onde nos apoiar! Libertamo-nos, assim, das areias movediças da especulação humana para a terra firme da Revelação Divina.
E dá sabedoria aos símplices. Mentes humildes, puras e ensináveis recebem a Palavra e com ela a sabedoria para a salvação. Coisas ocultas aos sábios e prudentes são reveladas a criancinhas. Os que se deixam persuadir ficam sábios, mas os sofistas permanecem tolos. Como lei ou plano, a Palavra de Deus converte e, a seguir, como testemunha, instrui. Todavia, a conversão é insuficiente; precisamos dar continuidade sendo discípulos. E se temos sentido o poder da verdade, havemos de provar sua autenticidade através da experiência. A perfeição do evangelho converte, mas a certeza a respeito dele edifica; para sermos edificados, não podemos vacilar incrédulos diante da promessa, pois um evangelho de que duvidamos não poderia nos dar sabedoria. Somente uma verdade da qual podemos ter certeza pode nos servir de esteio.
8. Os preceitos do Senhor são retos. Os estatutos e os decretos divinos estão fundamentados na justiça e são compreensíveis para a razão humana. Como um médico prescreve o medicamente correto, e um conselheiro o parecer adequado, assim é a Palavra de Deus. E alegram o coração. Observemos o progresso: o convertido ganha primeiramente sabedoria, e a seguir felicidade;
a verdade que torna reto o coração, também lhe concede alegria. A
graça traz júbilo ao coração. A alegria que procede deste mundo reside nos lábios e excita as forças do corpo; os prazeres celestiais, porém, satisfazem a natureza interior e preenchem as faculdades mentais até transbordarem. Não há refresco mais agradável do que este, derramado do cântaro das Escrituras. "Para ser feliz, refugie-se e leia a Bíblia."
O mandamento do Senhor é puro. Não
há enganos infiltrados que o contaminam, nenhuma nódoa de pecado o
polui; ele é o leite não-adulterado, o vinho não-diluído. E ilumina os olhos, ou
seja, limpa com sua própria pureza a obtusidade humana que interfere no
discernimento intelectual: para os olhos obscurecidos por tristeza ou
pecado, a Escritura é um oculista habilidoso que os torna claros e
radiantes. Olhe para sol e ele lhe cegará os olhos; olhe para a luz
maior da Revelação e ela os abrirá. A pureza da neve provoca uma
cegueira no viajante dos Alpes, mas a pureza da verdade divina exerce o
efeito contrário e cura a cegueira natural da alma. Convém novamente
observarmos a gradação: o convertido tornou-se um discípulo e a seguir
uma alma jubilosa; agora ele obtém olhos perspicazes e, como pessoa
espiritual, discerne todas as coisas, embora ele mesmo não seja
perscrutado pelos outros.
9. O temor do Senhor é límpido. A
doutrina da verdade é aqui descrita pelo seu efeito espiritual, ou
seja, a consagração interior ou temor ao Senhor; ela é límpida em si
mesma e limpa do amor ao pecado o coração onde reina, santificando-o. O
Sr. Temente a Deus não se satisfaz enquanto cada rua, estrada e viela,
sim, cada casa e cada esquina da cidade de Alma-Humana não esteja varrida da sujeira diabólica que a infesta. £ permanece para sempre. A
imundície gera decadência, mas a limpeza é o grande inimigo da
corrupção. O princípio puro da graça de Deus habitando no coração do
homem é permanente e incorruptível; pode ser suprimido por algum tempo,
mas não pode ser destruído. Tanto na Palavra como no coração, quando o
Senhor escreve, ele repete as palavras de Pilatos: "O que escrevi,
escrevi." Deus não faz rasuras, nem permitirá que outros façam. A
vontade revelada de Deus é imutável, até mesmo Jesus veio não para
destruir mas para cumprir, e até a lei cerimonial foi mudada somente na
sua sombra, a substância que nela reside é eterna. Enquanto os governos
das nações são abalados por revoluções e antigas constituições são
rejeitadas, é confortador saber que o trono de Deus é inabalável, e sua lei inalterável.
Os juízos do Senhor são verdadeiros e todos igualmente justos. Conjunta
e separadamente as palavras do Senhor são verdadeiras; aquela que é
boa no detalhe é ótima no conjunto; não há nenhuma exceção para uma
frase isolada nem para o livro como um todo. Os juízos de Deus, em
conjunto ou em separado, são manifestamente justos, e não precisam de
explanações trabalhosas para se justificarem. As decisões judiciais de
Jeová, reveladas na lei ou ilustradas na história de sua providência,
são a própria verdade e óbvias para toda mente sincera; não apenas seu
poder é invencível: sua justiça é inquestionável.
10.São mais desejáveis do que ouro, mais do que muito ouro depurado. A
verdade bíblica enriquece a alma ao mais elevado grau: a metáfora vai
ganhando força: ouro - ouro depurado - muito ouro depurado. Ela é boa,
melhor, ótima, e merece ser desejada com voracidade maior que a de um
faminto. Uma vez que o tesouro espiritual é mais nobre do que a mera
riqueza material, ele deve ser desejado e procurado com um ardor cada
vez maior. Fala-se sobre a solidez do ouro, mas o que é mais sólido do
que uma verdade sólida? Por amor ao ouro as pessoas abrem mão do prazer,
renunciam à tranqüilidade e põe a vida em perigo; não devemos estar
prontos para fazer o mesmo por amor à verdade? E são mais doces do que o mel e o destilar dos favos. Segundo
Trapp: "Aos mais velhos interessa o lucro, aos jovens o prazer;
àqueles está reservado o ouro, sim, o ouro depurado em grande
quantidade e a estes, o mel, sim, o mel puro que escorre dos favos." Os
prazeres resultantes de uma compreensão correta dos testemunhos divinos
são da mais preciosa ordem. As alegrias terrenas são totalmente
desprezíveis se comparadas a eles. Os deleites mais doces, sim, o mais
doce de todos são a parte de quem tem a verdade de Deus por herança.
Além disso, por eles se admoesta o teu servo. A
Palavra nos lembra tanto dos nossos deveres e perigos, como das
soluções. No mar da vida haveria muito mais naufrágios, não fossem os
avisos de tempestade divinos enviados em tempo aos vigilantes. A Bíblia
deveria ser nossa Mentora, Monitora, Instrutora e Guardiã de nossa
consciência. Por que será que tão poucos homens aceitam os avisos
enviados graciosamente? Somente os servos de Deus o farão,
pois honram a vontade do seu Mestre. Os servos de Deus não somente se
agradam em servi-lo, recebem também uma boa recompensa: em os guardar, há grande recompensa. Há
um salário e um salário elevado, por sinal. Embora não recebamos um
salário em dinheiro, acumulamos grandes salários em graça. Os santos
podem ser perdedores por um instante, mas serão ganhadores gloriosos a
longo prazo, e mesmo agora uma consciência tranqüila não é uma
recompensa pequena pela obediência. Aquele que usa na lapela a flor
chamada "coração-tranqüílo" é verdadeiramente bem-aventurado. Contudo, a
recompensa principal ainda está por vir, e a palavra usada aqui
("calcanhar") sugere que a recompensa virá no fim da vida, quando o
trabalho tiver sido realizado e virmos seu calcanhar, não enquanto
estiver em andamento. Ah que glória será então revelada! Só em
imaginá-la já desmaiamos de alegria. Nossa pequena aflição, que é
temporária, não merece ser comparada com a glória que será revelada em
nós. Saberemos o valor das Escrituras quando nadarmos nesse mar de
completo gozo para o qual suas correntezas nos conduzem, se nos
deixarmos levar.
12.Quem há que possa discernir as próprias faltas? Absolve-me das que me são ocultas.
13.Também da soberba guarda o teu servo, que ela não me domine; então, serei irrepreensível e ficarei livre de grande transgressão.
14.As palavras dos meus lábios e o meditar do meu coração sejam agradáveis na tua presença, Senhor, rocha minha e redentor meu!
12. Quem há que possa discernir as próprias faltas? Uma
pergunta que já contém em si a resposta. Um ponto de exclamação na
verdade é mais indicado que o ponto de interrogação. Pela lei obtém-se o
conhecimento do pecado e, na presença da verdade divina, o salmista se
admira com o número e a depravação de seus pecados. O bom conhecedor da
Palavra conhece melhor a si mesmo; porém até este ficará perplexo
diante das coisas que desconhece, mais do que está satisfeito com o que
já sabe. Fala-se de erros ridículos, mas para um homem de bom senso eles
são na verdade trágicos. Alguns livros trazem em suas páginas iniciais
uma errata; em nossa vida, porém, a errata seria do tamanho da obra se
tivéssemos sensibilidade suficiente para enxergar estes erros. Na velhice, Agostinho escreveu uma série
de retratações; deveríamos escrever uma biblioteca, se tivéssemos a
graça de sermos convencidos de nossas faltas e de confessá-las. Absolve-me das que me são ocultas. Tu, Senhor, podes ver em mim faltas inteiramente ocultas
a mim mesmo. Não posso esperar ver todas as minhas máculas; por isso, ó
Senhor, lava no sangue expiador todos aqueles pecados que a minha
consciência já detectou. Como conspiradores ocultos, os pecados secretos
precisam ser descobertos ou poderão ser fatais; é aconselhável,
portanto, orar bastante sobre eles. No Concilio de Latrão da Igreja de
Roma, foi sancionado um decreto segundo o qual todo crente verdadeiro
devia confessar todos os seus pecados anualmente ao sacerdote junto com
a declaração de que não haveria esperança de perdão, a menos que se
cumprisse o decreto. O que pode ser tão absurdo quanto este decreto?
Será que eles supõem que são capazes de contar seus pecados tão
facilmente como contam os dedos das mãos? Se pudéssemos receber perdão
de todos os pecados que cometemos em uma hora, confessando-os, nenhum de
nós conseguiria entrar no céu; uma vez que, além dos pecados por nós
conhecidos e por isso confessáveis, existe uma multidão de pecados tão
malignos quanto os que lamentamos, porém secretos e fora do alcance de nossos olhos. Se tivéssemos olhos como os de Deus, iríamos pensar de outra forma acerca de nós mesmos. As transgressões que enxergamos e confessamos são como as
pequenas amostras que um agricultor exibe no mercado, enquanto seus
celeiros estão abarrotados na fazenda. São pouquíssimos os pecados
observados e detectados, em comparação com aqueles ocultos a nós e não
vistos pelas criaturas que nos cercam.
13. Também da soberba guarda o teu servo, que ela não me domine. Esta
oração séria e humilde ensina-nos que os santos podem cometer o pior
dos pecados, a menos que sejam impedidos pela graça e que, por isso,
devem vigiar e orar para não caírem em tentação. Existe no melhor de
todos os homens uma tendência natural para o pecado e tal, como um
cavalo, precisamos ser detidos por rédeas, ou nos precipitaremos no
erro. Os pecados intencionais são peculiarmente perigosos. Todos
os pecados são graves, mas alguns são mais graves que outros. Todo
pecado carrega em si o veneno da rebelião
e está cheio da traiçoeira rejeição de Deus; porém há certos pecados
que demonstram um desenvolvimento maior do espírito central da rebeldia e
trazem estampado em suas faces o orgulho insolente que afronta a
soberania do Altíssimo. É errado supor que, porque todos os pecados
geram condenação, um não seja maior que o outro. O fato é que, enquanto
toda transgressão é gravíssima e pecaminosa, algumas têm uma coloração
mais escura e um matiz mais manchado de escarlate pela criminalidade do
que outras. A soberba do presente texto é ó pior dos pecados; ela
encabeçam a lista das iniqüidades. É notável que, embora a lei judaica
previsse uma expiação para cada tipo de pecado, havia uma excessão: "A
pessoa que fizer alguma coisa atrevidamente [...] injuria ao Senhor; tal
pessoa será eliminada do meio do seu povo."2 E agora, na
dispensação cristã, embora no sacrifício de nosso bendito Senhor haja
expiação grande e preciosa para a soberba, que purifica os que pecam,
desta forma, sem dúvida os pecadores insolentes que morrem sem perdão
receberão uma dose dupla da ira de Deus e uma dose ainda mais terrível
do castigo eterno no abismo destinado aos ímpios. Por esse motivo Davi
está tão ansioso para jamais deixar-se dominar pelo poder desses males
gigantescos. Então, serei irrepreensível e ficarei livre de grande transgressão. Ele
estremece com o pensamento de um pecado arrogante. O pecado secreto é
um trampolim para o pecado da soberba e a ante-sala do "pecado para
morte." Aquele que não peca deliberadamente está no caminho de ser
inocente, até onde um pobre pecador pode ser; porém aquele que tenta
Satanás para tentá-lo se coloca numa trilha que o levará de mal a pior.
14. As palavras dos meus lábios e o meditar do meu coração sejam agradáveis na tua presença, Senhor, rocha minha e redentor meu! Uma oração bela e tão espiritual que é quase tão comumente usada na adoração cristã como a bênção apostólica. As palavras dos lábios são
zombaria, sem o meditar do coração; uma concha não é nada sem a ostra;
mas as duas partes juntas são inúteis a menos que sejam agradáveis; e mesmo sendo aceitas pelo homem, não passarão de vaidade se não forem aceitas na presença do Senhor. Na oração precisamos ver Jeová como a rocha que nos torna fortes e o Redentor que nos salva, ou não estaremos orando corretamente; e faremos bem em demonstrar nosso interesse pessoal usando a palavra meu; do
contrário, nossas orações serão atrapalhadas. Nosso parente mais
próximo, "Goel" ou bendito Redentor, dá um fechamento bendito ao salmo; o
poema começa com o céu, mas termina com aquele cuja glória enche o céu e
a terra. Bendito Resgatador, permite-nos meditar agora de maneira
aceitável em teu sublime amor e ternura.
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