VALORES NA BALANÇA - Glênio F. Paranaguá
Que aproveita ao homem ganhar o mundo inteiro e perder a sua alma?
Segundo a avaliação de Jesus, uma vida ou a alma humana vale mais do que
o universo. A vida é mais importante do que o cosmo. Uma pessoa poderá
fazer um investimento que consiga angariar os recursos do mundo todo,
mas, se vier a perder-se eternamente, terá feito uma péssima aplicação.
De acordo com a estimativa de Jesus, a salvação de uma alma é mais
preciosa do que o montante dos recursos do mundo. A salvação de uma
única alma é mais importante do que a produção de recursos para a
preservação física de toda a humanidade. E o maior empreendimento é de
quem está envolvido na salvação das almas. LEIA MAIS
A maioria das pessoas não sabe fazer cálculo. Gasta-se mais tempo
tentando amealhar as riquezas que têm menos valor. No cômputo geral,
prefere-se dar mais atenção aos recursos de origem terrena, do que
cuidar das verdadeiras riquezas espirituais. Isto reflete o estrabismo
da visão humana, causada pelo pecado. Para a grande maioria, uma
empresa, uma fazenda ou os negócios merecem mais consideração do que a
salvação eterna de sua alma. Damos prioridade aos ganhos vantajosos
desta vida e desprezamos os valores permanentes que podem realmente nos
preencher. Quando Jesus disse ao jovem rico que ele precisava vender
tudo, dar aos pobres, para receber o tesouro celestial, ele, porém,
contrariado com esta palavra, retirou-se triste, porque era dono de
muitas propriedades. Marcos 10:22. Na sua contabilidade não constavam os
bens duráveis. Ele não sabia fazer avaliação das coisas de proporções
eternas. As bugigangas e os tesouros perecíveis acabam tomando lugar do
patrimônio imutável.
O homem encontra-se vazio. O coração do ser humano está buscando
satisfação ou significado nos valores deste mundo. Entretanto, nada, por
mais importante que seja, é capaz de preencher a lacuna da alma. Há um
buraco muito grande que só algo absoluto pode completar. O vazio do
homem tem a dimensão de Deus, e ninguém pode ocupar este espaço, senão o
próprio Deus. A busca de contentamento ou bem-estar fora da absoluta
necessidade de Deus tem demonstrado uma atividade enfadonha para a alma.
Por mais significativos que sejam os envolvimentos para rechear este
vazio, sempre terminam em decepção. William Bridge disse que a terra e
sua plenitude jamais podem satisfazer a alma. Glória e brilho não são
sinônimos. Podemos ser brilhantes neste mundo, mas profundamente vazios.
A crise da humanidade é fundamentalmente uma falta de conteúdo,
prioridade e direção. Ocupada com assuntos banais, a raça humana
pretende encher o vácuo da alma com as bagatelas econômicas, com as
futilidades culturais, com as ninharias esportivas e com as chochices
religiosas. Muito tempo e investimento têm sido gastos na reparação dos
estragos causados pela inversão dos valores. Mas, na verdade, tudo isto
tem sido em vão. Ninguém pode encontrar aprazimento fora de um
relacionamento real com Deus. Quando falamos de Deus, não estamos nos
referindo aos sistemas religiosos criados pelos homens, para tentar
suprir as necessidades da alma.
O miolo da alma tem que ser Deus mesmo. Nenhum conteúdo religioso pode
indenizar os prejuízos causados pela falta de comunhão com o próprio
Deus. Se Deus não for o centro de nossa experiência e a excelência de
nossos relacionamentos, então, estamos envolvidos com trivialidades que
jamais satisfarão as carências profundas de nossa alma. Somente em Deus,
ó minha alma, espera silenciosa; dele vem a minha salvação. Salmo 62:1.
A falta de intimidade pessoal com Deus é a causa da insatisfação
dominante do coração humano. Nada pode completar os desejos íntimos do
ser humano, senão o próprio Deus em pessoa. Nem mesmo as suas bênçãos ou
dons são capazes de suprir o vazio de cada um de nós. Ó Deus, tu és meu
Deus forte; eu te busco ansiosamente; a minha alma tem sede de ti; meu
corpo te almeja, como terra árida, exausta, sem água. Salmo 63:1. A alma
só pode contentar-se com a comunhão íntima de Deus mesmo. Só a pessoa
de Deus pode abastecer a sede do coração. Sem a consciência real da
presença de Deus e sem uma comunhão verdadeira com Ele, a existência
humana perde totalmente o sentido. É por isso que, muitas vezes ficamos
mais sedentos com a secura de nossa religiosidade. Entramos e saímos
destas reuniões, sem gozarmos da intimidade da presença de Deus. O
pensador Martin Buber afirmava: Nada tende a mascarar tanto a face de
Deus como a religião; ela pode tornar-se uma substituta para o próprio
Deus. Um cadáver lembra uma pessoa. Ali está o corpo em que viveu
alguém, mas o finado não tem expressão. Não há diálogo com morto.
Religião sem intimidade pessoal com Deus é funeral. E defunto não
cresce, não evolui nem causa progresso.
Muita gente se ilude com suas práticas religiosas supondo que este
ritualismo mitiga as carências de sua alma. O salmista se perturba com o
cerimonial religioso do seu tempo, com o derramar de sua alma, com o
festejo da multidão em gritos de louvor na procissão alegre em busca da
Casa de Deus. Havia todo um aparato estonteante de motivações
religiosas, mas a sua alma encontrava-se abatida, e ele gritava: Por que
estás abatida, ó minha alma? Por que te perturbas dentro de mim? E sua
resposta evidencia o grande problema: Espera em Deus, pois ainda o
louvarei, a ele, meu auxílio e Deus meu. Salmo 42:5. Havia muita
religiosidade em sua experiência, mas Deus estava ausente do seu louvor.
A chupeta acalenta o choramingo da criança, mas não abranda a fome. Só o
peito ou a mamadeira podem saciar a ânsia da fome. Nada neste mundo é
capaz de satisfazer plenamente a necessidade pessoal de Deus. Muitos
expedientes podem atenuar a crise, mas não satisfazem o vazio da alma.
Que adianta ao homem gastar todo o seu tempo e empregar todos os seus
esforços no envolvimento com o trabalho, estudo, religião e lazer, não
levando em conta a seriedade da salvação eterna de sua alma? Esta é uma
questão de prioridade. Ninguém pode desconsiderar este assunto e viver
com total significado. Jesus mostrou que, a realização do ser humano
passa em primeiro lugar pela preferência do reino de Deus. Buscai, pois,
em primeiro lugar, o reino de Deus e a sua justiça, e todas estas
coisas vos serão acrescentadas. Mateus 6:33. A salvação eterna e a
comunhão íntima com Deus são assuntos que fazem parte da primazia de uma
agenda inteligente. Fica claro, pelas Escrituras, que uma vida que
exibe sucesso neste mundo, mas não leva em consideração estes
ingredientes eternos, não passa de loucura. Jesus, em uma de suas
parábolas, levanta uma pergunta que Deus faz a um homem que havia se
preocupado apenas em cuidar dos seus interesses terrenos. Louco, esta
noite te pedirão a tua alma; e o que tens preparado, para quem será?
Lucas 12:20. É estupidez da grossa investir todo o nosso tempo e gastar
toda a nossa energia na aquisição de patrimônios que ficarão para trás
da sepultura.
Uma pessoa inteligente é aquela que sabe fazer o julgamento correto dos
fatos. Não podemos reputar como inteligente alguém que é desatento para
os assuntos ligados com a salvação eterna da sua alma. A sabedoria abre
os olhos tanto para as glórias do céu quanto para o vazio da terra. A
lucidez da mente e a agudeza do discernimento encontram-se em fazer,
enquanto se estiver vivo, as coisas que serão desejadas quando se
estiver morto. Todo empreendimento que só trata do aqui e agora não tem
significado permanente para o homem. Por isso, vale a pena ponderar os
enfoques e as ênfases de nossa existência, para não cairmos na armadilha
de nos envolvermos apenas com as coisas de menor valor. Que aproveita
ao homem ganhar o mundo inteiro e perder a sua alma?
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