Logo depois do término da
primeira guerra mundial,
ouvi um grande pregador
do sul dizer que temia
que o intenso interesse pela profecia
generalizada naquela época resultaria
na morte da bendita esperança
quando os eventos provassem que
os entusiásticos intérpretes estavam
errados.
O homem era profeta, ou pelo
menos um estudioso notavelmente
perspicaz da natureza humana, pois
aconteceu exatamente o que ele predisse.
A esperança da vinda de Cristo
está quase morta hoje em dia entre
os cristãos bíblicos.
Não signifi ca que tenham abandonado
a doutrina do segundo
advento. De modo nenhum. Tem
havido, como todas as pessoas bem
informadas sabem , um ajustamento
entre alguns dos pontos doutrinários
menores do nosso credo, mas a
Não vos deixarei órfãos,
voltarei para vós outros.
João 14:18
Revista Betel RIQUEZA DA
GRAÇA 27
imensa maioria dos evangélicos fi rmes
continua sustentando a crença
em que Jesus Cristo algum dia voltará
de fato à terra em pessoa. A vitória
fi nal de Cristo é aceita como uma das
inabaláveis doutrinas na Escritura
Sagrada.
É verdade que em alguns rincões
as profecias da Bíblia são expostas
ocasionalmente. Isto acontece especialmente
entre os cristãos hebreus,
que por razões muito compreensíveis,
parecem sentir-se mais perto
dos profetas do Velho Testamento
do que os crentes gentios. O amor
que votam a seu povo leva-os naturalmente
a apegar-se a toda esperança
de conversão e restauração última
de Israel. Para muitos deles o retorno
de Cristo representa rápida e feliz solução
do “problema judeu”. Os longos
séculos de peregrinação terminarão
quando ele vier, e Deus neste tempo
restaurará “o reino de Israel”. Não
ousamos deixar que o nosso amor
profundo por nossos irmãos cristãos
hebreus nos cegue para as óbvias implicações
políticas deste aspecto da
esperança messiânica. Não os censuramos
por isso. Apenas chamamos a
atenção para o fato.
Todavia, o retorno de Cristo como
bendita esperança está quase morto
entre nós, como já disse. A verdade
referente ao segundo advento onde
é apresentada hoje, é na maior parte
acadêmica ou política. O jubiloso
elemento pessoal falta por completo.
Onde estão aqueles que
“Tanto anseiam pelo sinal
ó Cristo, do teu cumprimento;
pelo chamejar desvanecem,
dos teus passos em teu advento?”
A aspiração por ver a Cristo que
queimava o peito daqueles primeiros
cristãos parece ter-se queimado toda.
Tudo que resta são cinzas. É precisamente
o “anseio” e o “desvanecimento”
pelo retorno de Cristo que distingue
entre a esperança pessoal e a teológica.
O mero conhecimento da doutrina
correta é pobre substituto de
Cristo, e a familiaridade com a escatologia
do Novo Testamento nunca
tomará o lugar do desejo infl amado
de amor de fi tar sua face.
Se o ardoroso anelo desapareceu
da esperança do advento hoje, deve
haver razão para isto; acho que sei
qual é, ou quais são, pois há um bom
número delas. Uma é simplesmente
que a teologia fundamentalista popular
tem dado ênfase à utilidade da
cruz, e não à beleza daquele que nela
morreu. A relação do salvo é apresentada
como contratual, em vez de
pessoal. Tem-se acentuado tanto a
“obra” de Cristo, que esta eclipsou a
pessoa de Cristo. Permitiu-se que a
substituição tomasse o lugar da identifi
cação. O que ele fez por mim parece
mais importante do que o que ele
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Betel
é para mim. Vê-se a redenção como
uma transação de negócio direto que
“aceitamos”; e à coisa toda fi ca faltando
conteúdo emocional. Temos de
amar muito a alguém, para fi carmos
despertos esperando a sua vinda, e
isso talvez explique a ausência de
vigor na esperança do advento entre
aqueles que ainda crêem nela.
Outra razão da ausência de real
anseio pelo retorno de Cristo é que
os cristãos se sentem tão bem neste
mundo que tem pouco desejo de deixá-
lo. Para os líderes que regulam o
passo da religião e determinam o seu
conteúdo e a sua qualidade, o cristianismo
tornou-se afi nal notavelmente
lucrativo. As ruas de ouro não
exercem atração muito grande sobre
aqueles que acham fácil amontoar
ouro e prata no serviço do Senhor cá
na terra. Todos queremos reservar a
esperança do céu como uma espécie
de seguro contra o dia da morte, mas
enquanto temos saúde e conforto,
por que trocar um bem que conhecemos
por uma coisa a respeito da qual
pouco sabemos? Assim raciocina a
mente carnal, e com tal sutileza que
difi cilmente fi camos cientes disso.
Outra coisa; nestes tempos a religião
passou a ser uma brincadeira
boa e festiva neste presente mundo,
e, por que ter pressa quanto ao céu,
seja como for? O cristianismo, contrariamente
ao que alguns pensaram,
é forma diversa e mais elevada
de entretenimento. Cristo padeceu
todo o sofrimento. Derramou todas
as lágrimas e carregou todas as cruzes;
temos apenas que desfrutar os
benefícios das suas dores em forma
de prazeres religiosos modelados segundo
o mundo e levados adiante em
nome de Jesus. É o que dizem pessoas
que ao mesmo tempo afi rmam que
crêem na segunda vinda de Cristo.
A história revela que os tempos de
sofrimento da Igreja tem sido igualmente
tempos de alçar os olhos. A
tribulação sempre deu sobriedade ao
povo de Deus e o encorajou a buscar
e a esperar ansiosamente o retorno
do seu Salvador. A nossa presente
preocupação com este mundo pode
ser um aviso de amargos dias por
vir. Deus fará com que nos desapeguemos
da terra de algum modo - do
modo fácil, se possível; do difícil, se
necessário. É a nossa vez.
O Melhor de A. W. Tozer,
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