Charles H. Spurgeon
Publicado em 01.07.2003
Existe um mal entre os que professam pertencer aos
arraiais de Cristo, um mal tão grosseiro em sua imprudência, que a
maioria dos que possuem pouca visão espiritual dificilmente
deixará de perceber. Durante as últimas décadas, esse mal
tem se desenvolvido em proporções anormais. Tem agido como o
fermento, até que toda a massa fique levedada. O diabo
raramente criou algo mais perspicaz do que sugerir à igreja
que sua missão consiste em prover entretenimento para as
pessoas, tendo em vista ganhá-las para Cristo. A igreja
abandonou a pregação ousada, como a dos puritanos; em
seguida, ela gradualmente amenizou seu testemunho; depois, passou
a aceitar e justificar as frivolidades que estavam em voga no
mundo, e no passo seguinte, começou a tolerá-las em suas
fronteiras; agora, a igreja as adotou sob o pretexto de
ganhar as multidões. Minha primeira contenção é esta: as
Escrituras não afirmam, em nenhuma de suas passagens, que
prover entretenimento para as pessoas é uma função da
igreja. Se esta é uma obra cristã, por que o Senhor Jesus
não falou sobre ela? "Ide por todo o mundo e pregai o evangelho a toda criatura" (Mc. 16.15).
Isso é bastante claro. Se Ele tivesse acrescentado: "E
oferecei entretenimento para aqueles que não gostam do
evangelho", assim teria acontecido. No entanto, tais
palavras não se encontram na Bíblia. Sequer ocorreram à
mente do Senhor Jesus. E mais: "Ele mesmo concedeu uns
para apóstolos, outros para profetas, outros para evangelistas e
outros para pastores e mestres" (Ef. 4.11). Onde
aparecem nesse versículo os que providenciariam
entretenimento? O Espírito Santo silenciou a respeito
deles. Os profetas foram perseguidos porque divertiam as
pessoas ou porque recusavam-se a fazê-lo? Os concertos de
música não têm um rol de mártires. Novamente, prover
entretenimento está em direto antagonismo ao ensino e à vida de
Cristo e de seus apóstolos. Qual era a atitude da igreja em relação
ao mundo? "Vós sois o sal", não o "docinho", algo que o mundo desprezará. Pungente e curta foi a afirmação de nosso Senhor: "Deixa aos mortos o sepultar os seus próprios mortos" (Lc. 9.60).
Ele estava falando com terrível seriedade! Se Cristo
houvesse introduzido mais elementos brilhantes e agradáveis
em seu ministério, teria sido mais popular em seus
resultados, porque seus ensinos eram perscrutadores. Não O vejo
dizendo: "Pedro, vá atrás do povo e diga-lhe que teremos um culto
diferente amanhã, algo atraente e breve, com pouca pregação.
Teremos uma noite agradável para as pessoas. Diga-lhes que
com certeza realizaremos esse tipo de culto. Vá logo,
Pedro, temos de ganhar as pessoas de alguma maneira!".
Jesus teve compaixão dos pecadores, lamentou e chorou por
eles, mas nunca procurou diverti-los. Em vão, pesquisaremos
as cartas do Novo Testamento a fim de encontrar qualquer
indício de um evangelho de entretenimento. A mensagem das
cartas é: "Retirai-vos, separai-vos e purificai-vos!". Qualquer
coisa que tinha a aparência de brincadeira evidentemente foi
deixado fora das cartas. Os apóstolos tinham confiança
irrestrita no evangelho e não utilizavam outros
instrumentos. Depois que Pedro e João foram encarcerados
por pregarem o evangelho, a igreja se reuniu para orar, mas
não suplicaram: "Senhor, concede aos teus servos que, por
meio do prudente e discriminado uso da recreação legítima,
mostremos a essas pessoas quão felizes nós somos". Eles não pararam
de pregar a Cristo, por isso não tinham tempo para arranjar
entretenimento para seus ouvintes. Espalhados por causa da
perseguição, foram a muitos lugares pregando o evangelho. Eles
"transtornaram o mundo". Essa é a única diferença! Senhor,
limpe a igreja de todo o lixo e baboseira que o diabo
impôs sobre ela e traga-nos de volta aos métodos dos
apóstolos. Por último, a missão de prover entretenimento
falha em conseguir os resultados desejados. Causa danos
entre os novos convertidos. Permitam que falem os
negligentes e zombadores, que foram alcançados por um evangelho
parcial; que falem os cansados e oprimidos que buscaram paz através
de um concerto musical. Levante-se e fale o
alcoólatra para quem o entretenimento na forma de drama foi um elo
no processo de sua conversão! A resposta é óbvia: a missão de
prover entretenimento não produz convertidos verdadeiros. A
necessidade atual para o ministro do evangelho é uma
instrução bíblica fiel, bem como ardente espiritualidade;
uma resulta da outra, assim como o fruto procede da raiz. A
necessidade de nossa época é a doutrina bíblica, entendida
e experimentada de tal modo, que produz devoção verdadeira
no íntimo dos convertidos.
Charles H. Spurgeon (1834 - 1892) - É conhecido como o "príncipe dos pregadores", cujos sermões foram publicados semanalmente durante os anos de 1855 e 1917. Em 1861, inaugurou o Tabernáculo Metropolitano que comportava até 6.000 pessoas e sempre estava lotado na sua época.
Charles H. Spurgeon (1834 - 1892) - É conhecido como o "príncipe dos pregadores", cujos sermões foram publicados semanalmente durante os anos de 1855 e 1917. Em 1861, inaugurou o Tabernáculo Metropolitano que comportava até 6.000 pessoas e sempre estava lotado na sua época.
Nenhum comentário:
Postar um comentário