sábado, 28 de julho de 2012

A RECONSTRUÇÃO DO TABERNÁCULO DE DAVI III - Glenio Fonseca Paranaguá

Estudos     

Cumpridas estas coisas, voltarei e reedificarei o tabernáculo caído de Davi; e, levantando-o das suas ruínas, restaurá-lo-ei, para que os demais homens busquem o Senhor, e todos os gentios sobre os quais tem sido invocado o meu nome, diz o Senhor que faz estas coisas conhecidas desde séculos. Atos 15:16-18.

A reconstrução do tabernáculo de Davi, apresentada pelo profeta Amós e considerada por Tiago, neste contexto, tem a ver com a realidade genérica da salvação dos pecadores e não sua universalidade. Já vimos em estudos prévios que Deus escolheu a Abraão para ser o canal da bênção em favor de todas as famílias da terra. O descendente do patriarca seria o abençoador da raiz adâmica. A salvação de Deus não é um acontecimento tribal que viesse beneficiar apenas uma etnia.

O povo judeu, no tempo de Davi, havia se fechado num exclusivismo de singularidade e perdido de vista a aliança da promessa feita com Abraão, na qual, o seu descendente seria o libertador de toda a humanidade. Vejam como o apóstolo Paulo analisa esse tópico para os seus contemporâneos. Ora, tendo a Escritura previsto que Deus justificaria pela fé os gentios, preanunciou o evangelho a Abraão: Em ti serão abençoados todos os povos. Gálatas 3:8.

O tabernáculo do Senhor construído por Moisés, símbolo da presença de Deus entre o seu povo, estava sem o seu móvel principal, pois a arca do Senhor, tipo da pessoa e obra de Cristo, havia sido retirada do seu lugar e permanecia vagando de déu em déu, sem lugar fixo.

A tenda do Santíssimo vazia e a arca fora do seu ambiente levaram Davi a considerar o assunto da graça plena para todos os povos e o propósito do Senhor para o governo do seu Filho. Proclamarei o decreto do Senhor: Ele me disse: Tu és meu Filho, eu hoje te gerei. Pede-me, e eu te darei as nações por herança, e as extremidades da terra por tua possessão. Salmo 2:7-8.

Deus tem mais povo do que uma única nação. Davi percebia a globalidade da graça e a inclusão dos gentios no pacto da promessa, sem, contudo, defender que todos serão salvos, necessariamente. O evangelho foi dado em beneficio de todos, mas isso não significa que todos já estão salvos por causa da obra de Cristo. Lembrar-se-ão do Senhor e a ele se converterão os confins da terra; perante ele se prostrarão todas as famílias das nações. Pois do Senhor é o reino, é ele quem governa as nações. Salmo 22:27-28.

O concerto com Davi é a aliança do reino. Uma dinastia pressupõe um desempenho sucessivo de hereditariedade. A genética da realeza implica em filiação nobre, exigindo um nascimento na família real. Ninguém poderá entrar no reino de Deus sem uma descendência régia por nascimento. A família de Aba é constituída dos filhos regenerados pela graça em Cristo, formando a nobreza sacerdotal do seu reino de adoração. Davi foi um pastor de ovelhas escolhido por Javé para ser o tipo do supremo Pastor de onde procede a família do Senhor.

O Senhor tinha como objetivo um povo da realeza sacerdotal com um sacerdócio universal. Mas por causa do episódio com o bezerro de ouro, só a tribo de Levi se mostrou completamente envolvida com o Senhor, e, por isso, acabou sendo nomeada para esse encargo. Todavia o plano do Senhor é ter um povo com um reino sacerdotal. Chegando-vos para ele, a pedra que vive, rejeitada, sim, pelos homens, mas para com Deus eleita e preciosa, também vós, como pedras que vivem, sois edificados casa espiritual para serdes sacerdócio santo, a fim de oferecerdes sacrifícios espirituais, agradáveis a Deus por intermédio de Jesus Cristo. 1 Pedro 2:4-5.

A conversão dos confins da terra ao Deus de toda graça sugere uma revolução radical na mentalidade privativa abraçada pela nação judaica na época davídica. O menor capítulo da Bíblia apresenta o maior propósito da salvação de Deus. Louvai ao Senhor vós todos os gentios, louvai-o todos os povos. Porque mui grande é a sua misericórdia para conosco, e a fidelidade do Senhor subsiste para sempre. Aleluia! Salmo 117. A glória de Deus por causa de sua misericórdia é o centro do culto estabelecido no tabernáculo de Davi.

O pecador é réu da condenação eterna. Mas, Deus é justo e não pode passar por cima da sua justiça. A sentença do pecado é a morte e todo pecador tem que morrer por causa do seu pecado. Mas Deus também é misericordioso e, neste caso, o seu Filho assumiu a culpa do culpado para que a justiça de Deus fosse cumprida e a misericórdia nos livrasse do castigo perpétuo.

No dia da introdução da arca do Senhor na tenda que Davi construíra no monte Sião, depois daquele único sacrifício, foi cantado um salmo de louvor que diz: Rendei graças ao Senhor, porque ele é bom, porque a sua misericórdia dura para sempre. 1 Crônicas 16:33. Deus usa de clemência com quem quer, mas indulgência por mérito é um contra senso. Misericórdia é assunto para os desvalidos e indignos, por isso o pecador deve sempre se lembrar que as misericórdias de Deus são bem maiores do que as suas misérias pessoais. Aqui está a verdadeira origem do culto.

O tabernáculo em Sião é o lugar da adoração e do louvor. Ali, a tribo sacerdotal se mantinha vinte quatro horas por dia prestando, com júbilo, o seu culto de consagração através de salmos, hinos e cânticos espirituais. "Se adorássemos como devíamos, não nos preocuparíamos como fazê-lo". Um coração profundamente agradecido, por uma tão grande salvação, não pode senão se derramar em louvores diante do seu Salvador.

O ponto principal da existência é o altar. "A adoração é a função mais elevada da alma humana". Ninguém pode subir mais alto do que na presença do Altíssimo. A adoração em espírito e em verdade, além de ser o máximo que o ser humano pode fazer, é a coisa mais importante no universo. Satanás ofereceu todos os reinos deste mundo a Jesus por um ato de adoração à sua pessoa, pois o culto está relacionado com o Deus Soberano mais do que qualquer outra realidade.

Quando realmente adoramos, estamos diante de Deus. A consciência da presença do Altíssimo nos cultiva nas alturas e num estado de culto permanente. Glória e majestade estão diante dele, força e formosura no seu santuário. Tributai ao Senhor, ó família dos povos, tributai ao Senhor glória e força. Salmo 96:6-7. Adorar para os redimidos é contemplar, com o seu ser extasiado, a glória do Pai, dando-lhe a honra que lhe é devida, por causa da pessoa e obra do Filho.

O salmista não disse: ó famílias da terra, mas, ó família dos povos. Aba só tem uma família formada pelos seus filhos de todas as tribos, povos e nações, regenerados pela graça mediante o Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo. O tabernáculo de Davi fala exatamente desta realidade espiritual, que se manifesta em ações de graça, louvores e adoração.

As criaturas devem adorar a grandeza do Criador, mas os filhos adoram o Pai das misericórdias, a Onipotência de toda graça, por causa do seu amor incondicional. Não é o temor, mas o amor cheio de graça e exultação que impulsiona os adoradores à presença de Aba. Vinde, cantemos ao Senhor, com júbilo, celebremos o Rochedo da nossa salvação. Saiamos ao seu encontro, com ações de graça, vitoriemo-lo com salmos. Salmo 95:1-2.

A alegria de Deus com a salvação dos pecadores acende nos salvos um culto alegre pela salvação de Deus. Um deus descontente ou contrariado só conseguirá produzir um povo mal-humorado, todavia, Javé satisfeito com a sua obra perfeita, pode afirmar: O Senhor teu Deus está no meio de ti, poderoso para salvar-te; ele se deleitará em ti com alegria; renovar-te-á no seu amor, regozijar-se-á em ti com júbilo. Sofonias 3:17.

A satisfação de Deus com a sua salvação perfeita resulta no festejo efusivo de seus filhos. Um povo salvo pela graça é uma raça movida a regozijo, pois quem experimenta a suficiência do Senhor só pode viver contente. Este estado de exultação é um dos indicadores marcantes do tabernáculo de Davi. Celebrai com júbilo ao Senhor, todos os confins da terra; aclamai, regozijai-vos, e cantai louvores. Cantai com harpa louvores ao Senhor, com harpa e voz de canto; com trombetas e ao som de buzinas, exaltai perante o Senhor que é rei. Salmo 98:4-6.

O tabernáculo de Davi é o domicílio da adoração seleta e o ambiente dos louvores alegres. É o acesso radiante daqueles que buscam o Senhor e que sabem o valor da eterna salvação. Folguem e em ti se rejubilem todos os que te buscam; e os que amam a tua salvação digam sempre: Deus seja magnificado! Salmo 70:4.

A igreja de Cristo é o antítipo do tabernáculo de Davi e a expressão viva da adoração sob os efeitos de uma alegria contagiante. Nisso exultais, embora, no presente, por breve tempo, se necessário, sejais contristados por várias provações, para que o valor da vossa fé, uma vez confirmado, muito mais precioso do que o ouro perecível, mesmo apurado por fogo, redunde em louvor, glória e honra na revelação de Jesus Cristo, a quem não havendo visto amais; no qual, não vendo agora, mas crendo, exultais com alegria indizível e cheia de glória. 1 Pedro 1:6-8.

O rei Davi vestiu-se com a estola sacerdotal, traje que lhe era proibido, para tipificar um reino de sacerdotes que vivem diante do altar adorando com alegria o Supremo Pastor de suas almas. Ser salvo é pertencer a esse reino do sacerdócio universal, com profunda gratidão, celebrando no íntimo esta tão grande salvação. Louvado seja o nosso Senhor Jesus Cristo. Aleluia!

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